Por Felizardo Neto
No povoado brejinhense de Vila de Fátima, sobre uma porta de madeira mal pintada de um bar, está colado um cartaz. “VIAÇÃO JUPI – Rodas que levam a um sonho, que encurtam distâncias e aproximam pessoas. Viagens para São Paulo e Belo Horizonte. Ônibus com ar condicionado, TV, DVD e frigobar”.
Numa casa que fica por trás da rua desse bar mora Augustinha Patrício Alves, 67 anos. Ela é mãe de seis filhos homens, todos casados. Usando um pano branco na cabeça para se proteger do forte sol de outubro, ela fala sobre a rotina dos seus filhos. “No inverno lês estão aqui, na seca eles vão embora para São Paulo”, explica, comparando seus rapazes aos passarinhos migratórios. Apesar dos seus filhos nunca irem de uma só vez para São Paulo, Augustinha diz que gostaria que todos estivessem sempre por perto. “Meus filhos são para mim como a Família Sagrada. Peço a Deus que ilumine eles e todos aqueles que estão na mesma situação deles”, completa, levantando as mãos para o céu.
Na mesma situação dos filhos de Augustinha estão os maridos das funcionárias públicas Francinalva Firme Batista de Medeiros, 38 anos e Maria das Neves Costa Batista, 34 anos. Ambas são moradoras da cidade de Brejinho.
“Tem coisas que a gente só sabe conversar com o esposo. E o meu, quando vai embora para São Paulo ou para o Rio, chega a demorar até cinco meses por lá. Foi assim este ano, quando eu senti muita falta dele”, afirma Francinalva, enquanto lava as camisas de algodão do seu marido, o agricultor João Batista Félix Bezerra, 43 anos.
“A noite é o pior momento quando estamos longe de quem gostamos”, declara Maria das Neves, esposa do agricultor Sebastião Anicácio de Lima Rodrigues, 30 anos. Ele viaja rotineiramente para São Paulo, Rio de Janeiro e Natal. “Não só eu sinto a falta dele, mas também os nossos filhos”, ela pontua, sob o olhar brilhante e o sorriso de Sebastião. Ele aproveita para se sentar ao lado dela e lhe dar um beijo na face.
Tanto Maria das Neves quanto Francinalva concordam que se existisse mais oportunidades de serviço no lugar onde vivem, talvez não fosse preciso seus maridos levar a vida que levam. Francinalva vai mais longe ao dizer que se o seu esposo tivesse estudado mais, poderia ter encontrado um serviço melhor lá fora, ou mesmo nunca ter precisado viajar. Ela, que recentemente recebeu um diploma por ter estudado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), não esconde a dura análise que faz sobre o trabalho em São Paulo. “Lá, tudo está sempre mudando. Até a maneira de fazer medições, nos trabalhos da construção civil, é diferente da de antigamente. É preciso estudo”, conclui.
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