Entrar em contato com as próprias tristezas é essencial para o processo de autoconhecimento
Por: Adriana Gomes
A sociedade exige que você seja bem sucedido, tenha boa aparência,
consuma, consuma, consuma... mas tudo isso não é o bastante. Você tem
que ser feliz e sorrir – sempre.
Já reparou? A tristeza, que é um estado emocional comum,
frequentemente é elevada à categoria de depressão (até porque parece que
ter depressão é mais chique do que estar triste)... e a depressão, você
sabe, não pega bem no ambiente profissional. (Continua)
Se você aparecer com uma cara meio fechada, logo os colegas vão
soltar algo do tipo “para de chorar”, “deixe disso” ou “isso passa”,
provavelmente por não saberem o que fazer com a própria tristeza ou com o
próprio choro.
E você, como tantas outras pessoas, na tentativa desesperada de fugir
desse sentimento incômodo vai recorrer a algumas das saídas mais
comuns: comprar (muitas vezes o que não precisa com o dinheiro que não
tem), fazer dívidas, comer ou se alienar de alguma outra forma para
evitar entrar em contato com os verdadeiros motivos da tristeza.
Acertei? Pois é... Pensar sobre a vida e sobre o que nos incomoda não
é lá muito divertido. Além disso, lidar com frustrações e angústias
requer certa dose de coragem e, para completar, a sociedade não estimula
o indivíduo a se conhecer melhor e entrar em contato com aspectos
delicados e complexos. Fora do trabalho, as pessoas só querem se
divertir.
A conseqüência disso é que nos transformamos em uma sociedade doente
que teima em não aceitar as próprias doenças. Pesquisa da IMS Health
Brasil apontou que, entre janeiro e junho de 2011, foram comercializadas
no Brasil 34,6 milhões de unidades farmacêuticas contra depressão e
outros transtornos de humor. Isso representa um aumento de 49,1% de
vendas em relação ao mesmo período de 2007, quando foram comercializadas
23,2 milhões de cápsulas.
Será que todos estão realmente doentes ou simplesmente sentem
necessidade de parecer sempre muito bem? Não espere que eu dê as
respostas. O que posso fazer aqui é simplesmente indicar um caminho.
Achar que nada vai mudar e ficar conformado, se entupindo de
antidepressivo, não vai melhorar a situação.
Se está muito difícil suportar o peso de ter de parecer feliz o tempo
todo, talvez esteja na hora de enfrentar essa situação de maneira menos
resignada.
Um bom começo é se dar o direito de não estar radiante hoje. Ou
amanhã. Não se sentir super feliz todos os dias é mais verdadeiro do que
seu contrário. Ficar em silêncio e isolado consigo próprio e seus
pensamentos pode ser muito útil. Melhor ainda é conseguir conversar
sobre essas questões com alguém que verdadeiramente se interesse por
você sem fazer julgamentos e críticas. Pode ser um amigo ou um
profissional. Lembre-se de que entrar em contato com as tristezas também
constitui, em parte, o processo de autoconhecimento. E esse, de fato, é
um ponto levado em consideração no desenvolvimento profissional. O
autoconhecimento possivelmente tenha mais peso nessa jornada do que
aquela falsa felicidade exigida de você diariamente.
(*) Adriana Gomes - Mestre em Psicologia Social
e do Trabalho, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga e Coach
com mais de 20 anos de carreira. Ex-vice-presidente da Catho.
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de
Pessoas e Coordenadora Acadêmica da área de Pessoas e do Centro de
Carreiras da pós-graduação. Colunista do Portal Exame e colaboradora dos
Blogs da HSM e Clickcarreira. Autora do Livro Mudança de Carreira e
Transformação da Identidade. Diretora do site www.vidaecarreira.com.br
Fonte: http://msn.clickcarreira.com.br
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