terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sociedade discrimina quem não parece feliz


Entrar em contato com as próprias tristezas é essencial para o processo de autoconhecimento
Por:  Adriana Gomes

A sociedade exige que você seja bem sucedido, tenha boa aparência, consuma, consuma, consuma... mas tudo isso não é o bastante. Você tem que ser feliz e sorrir – sempre.

Já reparou? A tristeza, que é um estado emocional comum, frequentemente é elevada à categoria de depressão (até porque parece que ter depressão é mais chique do que estar triste)... e a depressão, você sabe, não pega bem no ambiente profissional. (Continua)
 


Se você aparecer com uma cara meio fechada, logo os colegas vão soltar algo do tipo “para de chorar”, “deixe disso” ou “isso passa”, provavelmente por não saberem o que fazer com a própria tristeza ou com o próprio choro.

E você, como tantas outras pessoas, na tentativa desesperada de fugir desse sentimento incômodo vai recorrer a algumas das saídas mais comuns: comprar (muitas vezes o que não precisa com o dinheiro que não tem), fazer dívidas, comer ou se alienar de alguma outra forma para evitar entrar em contato com os verdadeiros motivos da tristeza.

Acertei? Pois é... Pensar sobre a vida e sobre o que nos incomoda não é lá muito divertido. Além disso, lidar com frustrações e angústias requer certa dose de coragem e, para completar, a sociedade não estimula o indivíduo a se conhecer melhor e entrar em contato com aspectos delicados e complexos. Fora do trabalho, as pessoas só querem se divertir.

A conseqüência disso é que nos transformamos em uma sociedade doente que teima em não aceitar as próprias doenças. Pesquisa da IMS Health Brasil apontou que, entre janeiro e junho de 2011, foram comercializadas no Brasil 34,6 milhões de unidades farmacêuticas contra depressão e outros transtornos de humor. Isso representa um aumento de 49,1% de vendas em relação ao mesmo período de 2007, quando foram comercializadas 23,2 milhões de cápsulas.

Será que todos estão realmente doentes ou simplesmente sentem necessidade de parecer sempre muito bem? Não espere que eu dê as respostas. O que posso fazer aqui é simplesmente indicar um caminho.  Achar que nada vai mudar e ficar conformado, se entupindo de antidepressivo, não vai melhorar a situação.

Se está muito difícil suportar o peso de ter de parecer feliz o tempo todo, talvez esteja na hora de enfrentar essa situação de maneira menos resignada.

Um bom começo é se dar o direito de não estar radiante hoje. Ou amanhã. Não se sentir super feliz todos os dias é mais verdadeiro do que seu contrário. Ficar em silêncio e isolado consigo próprio e seus pensamentos pode ser muito útil. Melhor ainda é conseguir conversar sobre essas questões com alguém que verdadeiramente se interesse por você sem fazer julgamentos e críticas. Pode ser um amigo ou um profissional. Lembre-se de que entrar em contato com as tristezas também constitui, em parte, o processo de autoconhecimento. E esse, de fato, é um ponto levado em consideração no desenvolvimento profissional. O autoconhecimento possivelmente tenha mais peso nessa jornada do que aquela falsa felicidade exigida de você diariamente.

 (*) Adriana Gomes - Mestre em Psicologia Social e do Trabalho, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga e Coach com mais de  20 anos de carreira.  Ex-vice-presidente da Catho. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas e Coordenadora Acadêmica da área de Pessoas e do Centro de Carreiras da pós-graduação. Colunista do Portal Exame e colaboradora dos Blogs da HSM e Clickcarreira. Autora do Livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade. Diretora do site www.vidaecarreira.com.br

Fonte:  http://msn.clickcarreira.com.br

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