Andrezza Czech Do UOL, em São Paulo
Você costuma chegar do trabalho resmungando com
muita frequência? Encara o emprego como um martírio ou uma humilhação? Ou, ao
contrário, demonstra que sua carreira é a coisa mais importante da sua vida?
Saiba que comportamentos desse tipo podem afetar a forma como os seus filhos
enxergarão a vida profissional futuramente.
"Os pais são modelos para os filhos. Se eles
chegam todos os dias contando situações horríveis, as crianças não vão querer
ter o mesmo futuro", afirma a psicóloga Marina Vasconcellos, especialista
em psicodrama e terapia familiar. Como consequência disso, além de fugir da
mesma carreira que a sua, seus filhos podem encarar o trabalho como um
sacrifício --mesmo antes de entrar para o mercado de trabalho.
Por outro lado, passar uma imagem extremamente
positiva da profissão aos filhos, e estimulá-los a se aproximar do seu mundo
profissional, pode fazer com que eles sigam seus passos sem refletir sobre seus
verdadeiros desejos. "É um perigo, pois pode não ser o que eles querem
fazer, embora sintam que pertençam a esse universo", afirma Marina.
(CONTINUA)
Resistência
à frustração
Família que passa a ideia de que o trabalho deve
ser uma fonte completa de felicidade pode gerar um filho adulto com maiores
chances de se frustrar profissionalmente, segundo a psicóloga e psicanalista
Blenda de Oliveira, membro da SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
Paulo). "O trabalho nem sempre precisa ser sinônimo de felicidade. Às
vezes, leva um tempo para encontrar aquilo que nos satisfaz", diz Blenda.
Para ela, a profissão não precisa ser necessariamente o que mais se ama, mas,
sim, o que se faz de melhor. "Quando o trabalho não é tão idealizado, a
relação é mais saudável e mais produtiva", diz.
Quem idealiza uma vida profissional cheia de
sucesso e reconhecimento desde a infância pode se tornar um jovem que desiste
diante do primeiro obstáculo ou quando é contrariado. "Essa situação é
mais frequente em famílias que não precisam do trabalho para sobreviver e, por
isso, os filhos não entendem que o estresse faz parte do trabalho. Eles acham
que têm de começar com um bom cargo, ganhando bem, ou não vale a pena sair de
casa", diz Blenda.
Para a psicóloga especialista em psicodrama Cecília
Zylberstajn, compreender que nenhum trabalho é perfeito evita problemas.
"Os jovens [da geração Y] foram educados na era da autoestima: são vistos
como muito especiais, mas foram crianças mimadas que viraram adultos que não
sabem lidar com a frustração", afirma. "A escola e os pais mimam, e o
mercado de trabalho é o primeiro contato que eles terão com limites e
decepções", diz Cecília.
Para criar filhos que sejam bons profissionais no
futuro, é preciso ensiná-los a lidar com a frustração desde a infância, quando
ainda estão na escola. "Mostre que é natural ter professores que não são
legais ou que as notas nem sempre serão as imaginadas", afirma Blenda. E,
quando eles entrarem no mercado de trabalho, é importante que sejam orientados
a não desistir diante das adversidades. "Resistência à frustração não se
aprende na escola, mas em casa. Tem a ver com os valores e a formação dos
pais", diz a psicóloga e consultora organizacional Izabel Failde.
Modelos
de relacionamento
O padrão de relacionamento que a criança estabelece
com os pais afeta o modo como ela irá encarar as relações de trabalho no
futuro, segundo Cecília. Por isso é fundamental que eles não sejam expostos a
uma educação extremamente autoritária. "A família é o berço de todas as
relações. Muitas vezes os problemas que vemos no trabalho podem ser decorrentes
das dinâmicas familiares", diz.
Como o pai costuma a ser a primeira figura de
autoridade que conhecemos, se ele for muito rígido, o filho poderá ter
problemas de relacionamento com o chefe no futuro, por exemplo. "Aquele
menino indefeso pode continuar assim na fase adulta", afirma Cecília.
Também é possível que, depois de anos obedecendo às ordens de um pai
controlador, a criança se torne um adulto com raiva da figura que exerce poder
e, por isso, tenha dificuldade de aceitar ordens no ambiente profissional.
Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br
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