O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 terminou ontem com incidentes pontuais e uma surpresa - no último dia, os 4,17 milhões de candidatos que participaram dos dois dias de exame tiveram de escrever uma redação sobre movimentos de imigração no Brasil no século 21. O tema foi considerado inesperado e difícil e professores consultados pelo Estado afirmaram que a complexidade pode resultar em queda média do desempenho dos alunos.
Os candidatos enfrentaram ontem, além da redação,
as provas de português e matemática. No sábado, foi a vez de Ciências Humanas e
da Natureza. Segundo balanço divulgado ontem pelo ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, a taxa de abstenção, de 27,9%, foi praticamente a mesma do ano
passado (27,6%). Os problemas maiores se concentraram na internet.
(CONTINUA)
Ontem, na porta da maior parte dos locais de
prova, o tema da redação era o principal assunto. "Eu me preparei para
temas como violência, política, Código Florestal e não esperava isso. Fiquei
limitado ao que tinha na proposta", diz o estudante Marcus Santos, de 19
anos.
A proposta para a redação trazia uma coletânea
com informações sobre imigrantes do Haiti, que chegam ao País pelo Acre, e da
questão dos bolivianos no Brasil. Também havia menção ao movimento de migração
dos séculos 19 e 20.
Para o professor Rogério Chociay, aposentado do
departamento de Letras da Unesp e especialista em redação de vestibular, é
possível que haja queda no desempenho dos estudantes com relação ao ano
anterior - em que o tema era internet. "Há uma quebra de expectativa com
relação ao ano passado. O tema está um tanto fora do eixo da maioria dos
estudantes e além disso não há informações precisas se há de fato um movimento
migratório", diz ele. "A proposta é perigosa pelo número de dúvidas.
Ele ficou dependente dos textos de apoio e isso complica."
Nilson José Machado, professor da faculdade de
Educação da USP, diz que os textos de apoio do Enem têm se mostrado limitadores
e repetitivos. "Talvez fosse mais razoável se fossem colocados textos com
claras referências teóricas à tolerância, por exemplo, que textos que reiteram
casos particulares."
O diretor pedagógico da Oficina do Estudante,
Célio Tasinafo, elogiou a escolha do tema. "É um assunto atual e
relevante, que obriga o aluno a refletir sobre questões sociais e
políticas", diz.
No entanto, ele reconhece que a proposta pode ter
ficado distante da realidade da maioria dos vestibulandos. "Pela lógica, a
nota média da redação tende a ser um pouco menor que a do ano passado. Mas
outro fator que pode alterar esse quadro é o fato de que a correção neste ano
será mais criteriosa."
Para Caroline Andrade, do Cursinho da Poli, a
proposta trouxe um tema que surpreendeu. Ela afirma que o "fator
surpresa", no entanto, pode atrapalhar o rendimento. "O inesperado
pode causar insegurança e fazer com que a pessoa não consiga construir uma
argumentação consistente", diz.
Simone Motta, professora de redação do Etapa,
argumenta que o tema segue a proposta do exame, de trazer um assunto atual à
tona. "Pode ter sido uma escolha menos trivial, mas não foge à
regra." Para ela, a coletânea apresentada foi muito eficaz ao apontar os
principais movimentos migratórios.
O coordenador-geral do Anglo, Luís Ricardo
Arruda, diz que essa problemática é conhecida por quem se informa. Mas ele
também afirma que a nota média deve cair. "O Enem vai se aproximando de um
vestibular. E para isso tem de ser seletivo mesmo."
O que ainda precisa de amadurecimento, diz
Tasinafo, da Oficina do Estudante, é a prova de Linguagens. "Os textos
continuam muito longos. O candidato chega à metade da prova cansado".
Já a de matemática recebeu elogios. "Os
enunciados eram curtos e muito bem elaborados", disse Marcelo Dias
Carvalho, do Etapa.
DAVI LIRA, CARLOS LORDELO, CRISTIANE NASCIMENTO,
OCIMARA BALMANT e PAULO SALDAÑA
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