O combate ao analfabetismo adulto no Brasil precisa de política pública de mobilização, afirmam especialistas consultados pelo UOL. Dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o índice de analfabetos do país parou de cair pela primeira vez em 15 anos: 8,5% da população com mais de 15 anos não sabe ler e escrever.
A estagnação não foi surpresa para quem acompanha o assunto. "Nós vemos o quanto as salas de aula de EJA [Educação de Jovens e Adultos] estão sendo fechadas nas redes municipais e estaduais", afirma Sonia Couto, pesquisadora e coordenadora do IFP (Instituto Paulo Freire).
A pesquisadora critica a forma como são ofertadas as salas de EJA e afirma faltar vontade política para reduzir o número de analfabetos. "O adulto tem problemas de horário de trabalho, problemas na família. O curso começa às 19h e termina às 23h, ele nem consegue chegar às 19h e nem ficar até as 23h, porque está cansado", reclama.
Para ela, as redes precisam criar programas que atendam essa população conforme suas necessidades. Os cursos deveriam ter flexibilidade de horário, práticas didáticas adequadas para adultos e divulgação adequada.
"O adulto não é obrigado por lei a voltar para a escola. Teria que fazer um programa de engajamento, de mobilização destes adultos", concorda Priscila Cruz, de diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação.
"A queda do analfabetismo devia ser muito rigorosa no Brasil", afirma Priscila. "Em relação aos outros países, a gente está ficando cada vez mais para trás."
Atenção para crianças e jovens
Para o representante do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Klinger Barbosa Alves, por muito tempo as redes estiveram focadas nas crianças. "A atenção do sistema educacional ficou muito tempo voltada para inclusão de crianças e adolescentes. Os números mostram que precisamos ficar atentos a um número imenso de jovens e adultos que precisam voltar para a escola", avaliou Klinger Barbosa Alves, representante do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).
Segundo o secretário de educação estadual do Espírito Santo, um dos problemas de atendimento dessa população é a evasão. "A experiência aqui no Estado mostra que, por exemplo, quando um adulto matriculado muda de emprego é grande a chance dele abandonar o curso", diz Klinger.
Governo federal
Para a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello, não se pode falar em aumento do analfabetismo. "Nossa avaliação é que não houve aumento da taxa de analfabetismo, e sim que ficou estável e que temos de continuar avançando", disse nesta sexta-feira (27), no Palácio do Planalto.
Em nota, o MEC (Ministério da Educação) afirmou monitorar os dados de evolução do analfabetismo. A pasta afirma que 6,7 milhões de jovens e adultos foram beneficiados pelo programa Brasil Alfabetizado entre 2008 e 2012. O MEC diz ainda que "dará continuidade aos esforços no sentido de romper com o ciclo de produção do analfabetismo"
Fonte: BOL Notícias