SÃO PAULO - "Se queremos melhorar a produtividade no País, temos de melhorar o ensino", afirmou o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho. O objetivo da segunda rodada de debates, que começou às 11h, era discutir caminhos para melhorar a qualidade da educação.
Os palestrantes identificaram algumas questões específicas, como o papel da família na garantia do aprendizado, o estabelecimento de parâmetros de formação, a contratação, a valorização de bons professores e a necessidade de um currículo nacional unificado.
As iniciativas de órgãos públicos e privados e os casos de sucesso, no país e no exterior, serviram de costura para a discussão, que teve como participantes o economista Gustavo Ioschpe, da empresa de análise de dados Big Data, o presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Simon Schwartzman, e a pedagoga Paula Louzano, da Faculdade de Educação da USP.
Um dos pontos abordados foi o de como aproveitar melhor os recursos para uma gestão eficaz. "Não existe relação clara, direta, entre gastos e aprendizado", afirmou Menezes Filho. De acordo com o coordenador, os jovens atualmente possuem mais anos de estudo e, no entanto, o desempenho deles é pior, criando profissionais menos preparados para o mercado de trabalho. Segundo dados apresentados por ele, 40% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível 1, o pior, no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2009.
Para o economista Gustavo Ioschpe, a maior interferência no processo educacional é o interesse político colocado acima dos resultados. "Educação de qualidade não dá voto, tira", afirmou. De acordo com Ioschpe, há interesses de diversos grupos organizados em manter a qualidade do ensino baixa, pois isso evita cobranças. A dificuldade não é técnica, mas política. Existem estudos empíricos que apontam quais ações funcionam. "A pergunta que deveria ser feita é por que essas mudanças não estão sendo implementadas", disse. O economista aponta uma falta de cobrança e até mesmo de interesse dos pais como cerne do problema. "Precisamos trazer os pais da rede pública para a causa da educação e mostrar que a escola é ruim; e o impacto que isso vai ter na vida futura dos filhos deles."
Outra questão tratou da ausência de um currículo melhor estruturado, com parâmetros menos amplos. Segundo Paula, ele não é suficientemente desafiador. De acordo com a pedagoga, o currículo do aluno brasileiro possui uma defasagem enorme quando comparado com o de outros países. Uma criança no Ensino Fundamental no exterior aprende coisas que são requeridas apenas no Ensino Médio no Brasil. Além de tentar atingir a expectativa básica, seria necessário pensar em algo mais desafiador.
Para Schwartzman, o currículo é muito vago na formação inicial e demasiadamente rígido no ensino médio. O pesquisador apontou que os alunos demonstram progresso significativamente menor depois dos 15 anos. Schwartzman citou exemplos do exterior em que o aluno opta por uma área de especialização. Para ele, fazer escolhas e ser avaliado de acordo com elas pode ser uma alternativa para melhorar índices ruins de desempenho.
Os debatedores discutiram a possibilidade de oferecer alternativas ao governo federal não só em termos de grade curricular, mas também de estrutura. A ideia seria investir em instituições que recebam financiamento público, mas sejam geridas pelo setor privado, como as charter schools dos Estados Unidos.
Paula Louzano enfatizou a necessidade de investir na formação e na valorização da carreira de educadores. "Estamos indo para o caminho inverso e nos despreocupando da formação", criticou. De acordo com a educadora, 36% dos professores são formados por cursos de ensino à distância, pouco regulados. Além disso, frisou a diferença nas horas necessárias para a formação do professor: na Finlândia, exemplo de excelência em educação, um curso tem 9 mil horas; no Brasil, apenas 2,8 mil horas. Além disso, o recém-formado recebe pouco apoio e logo desiste da profissão. Não adianta contratar um bom profissional, é necessário que ele permaneça na rede, afirmaram os especialistas. Para tanto, há a urgência do desenvolvimento de um sistema de incentivos.
Os debatedores também discutiram o papel dos diretores. Um caso lembrado por Ioschpe foi o de duas escolas de Goiânia que possuíam indicadores de desempenho opostos. A escola de pior rendimento contava com uma infraestrutura mais sofisticada, mas a outra era administrada por uma diretora muito motivada. O economista tentou reunir as duas diretoras tempos depois - por ironia, a responsável pela escola ruim não apareceu.
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