segunda-feira, 30 de junho de 2014

Quase um milhão de alunos abandonaram os cursos do Pronatec

Marcelle Souza
Do UOL, em São Paulo
Das 7,4 milhões de matrículas criadas pelo Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), cerca de 950 mil foram abandonadas por candidatos de 2011 até junho deste ano. O número é do MEC (Ministério da Educação), que não vê esse dado de evasão como preocupante.
"O percentual de abandono é de 12,86% no Pronatec, um número que consideramos razoável", diz Aléssio Trindade de Barros, secretário da Setec (Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica) do MEC. "Muitos alunos são jovens e adultos que estão procurando emprego, e dentro da escola passar a ter contatos empresariais, acabam conseguindo emprego e às vezes precisam parar o curso", afirma.
O Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), porém, defende em outra explicação para o número. "Eu acredito que a evasão não é maior primeiro porque o curso é rápido, de dois a três meses, e o perfil dos estudantes é uma clientela muito carente, que vê nesse curso muitas vezes a chance de ter um dinheirinho por mês", afirma Fabiano Faria, da Direção Nacional do sindicato.
O Pronatec oferece bolsas-formação para os beneficiários do seguro-desemprego e dos programas federais de inclusão produtiva que fazem cursos de curta duração, e para os estudantes da rede pública que fazem cursos técnicos (mais de 800 horas-aula).


Para o Senai, a evasão dos alunos do Pronatec é pouco maior do que os estudantes regulares da rede. "De fato, amplia um pouco com relação aos outros alunos, porque eles são adultos, têm escolaridade variada, é obvio que têm mais dificuldade de acompanhar os cursos. E por isso mesmo o programa é uma ação de inclusão dessas pessoas", explica Rafael Lucchesi, diretor geral do Senai. 
Lucchesi acrescenta que em alguns cursos foi necessário adotar aulas complementares de português e matemática para os alunos que não tinham a formação básica nessas disciplinas. Apesar de aprovar a medida, o MEC diz que a complementação não é adotada em todo o programa e que a medida fica a critério de cada instituição de ensino participante do Pronatec.

Monitoramento e qualidade


Um dos grupos mais críticos ao Pronatec é o Movate (Movimento de Valorização dos Trabalhadores em Educação do MEC), que questiona a qualidade e o monitoramento dos cursos oferecidos pelo programa. "O movimento critica a falta de regulação e acompanhamento dos cursos ofertados no âmbito do Pronatec que, em sua maioria, são cursos FIC (curta duração)", afirmou em nota enviada à reportagem.
O ministério afirma que faz uma análise dos projetos pedagógicos apresentados pelas instituições parceiras e que realiza visitas in loco para verificar as instalações desses locais. "O MEC tem de modo sistematizado avaliado e supervisionado as escolas, tanto as privadas quanto as federais, que fazem parte do Pronatec. Há um procedimento contínuo e sistemático de monitoramento das ofertas privadas", afirma o secretário do Setec.
"O MEC não tem capacidade técnica de acompanhar tudo, é uma falta de controle total", questiona o professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Gaudencio Frigotto, que estuda o ensino técnico no Brasil.
Até hoje, segundo o ministério, nenhuma instituição foi descredenciada por descumprir exigências pedagógicos ou estruturais para a realização de cursos do Pronatec.

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