Andréia Martins
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Que os brasileiros são figuras carimbadas em redes sociais não é novidade. Mas nós também estamos em grande número quando o assunto são as redes sociais de ensino de idiomas. São mais de 3,5 milhões de nativos brasileiros cadastrados na rede social Busuu, o maior grupo, e 2 milhões no Livemocha (segundo dados de 2012), também a maioria. Em outra grande rede social de ensino de línguas, a Italki, o Brasil não é maioria, mas soma 75 mil usuários, de um total de 1,5 milhão.
Segundo essas empresas, o que atrai alunos é a praticidade, flexibilidade e o preço acessível do ensino. Mas, para Vera Menezes, professora titular da UFMG e estudiosa do uso da tecnologia no ensino de línguas, ainda há pouca inovação no conteúdo dessas redes e no ensino online de idiomas em geral.
Os exercícios, por exemplo, são geralmente cópias dos formatos encontrados em livros. "Os cursos online que eu conheço fazem uso de material textual muito semelhante ao encontrado em livros. O que muda é a forma de apresentação. Muitas vezes vemos atividades idênticas às de livros impressos com outra 'embalagem'. Por exemplo, em vez de fazer um X nas alternativas no livro, o aprendiz clica em caixinhas".
Como funciona
Hoje, Livemocha, Busuu, Italki e Lang-8 são as principais redes sociais de ensino de idiomas. Criadas em meados dos anos 2000, têm funcionamento parecido: um usuário se cadastra gratuitamente no site e pode ensinar seu idioma nativo a outro usuário que deseja aprendê-lo, e assim por diante. Se preferir, pode optar por ter aulas com professor profissional, que custam, em média, entre US$ 5 e US$ 30. O acesso gratuito dá direito a uma quantidade limitada de conteúdo, que inclui material didático, acesso a chats e troca de vídeos e textos com nativos.
Para um conteúdo maior, o usuário deve assinar um pacote pago. No entanto, para quem valoriza certificados, as redes citadas só concede diploma a quem cursar módulos pagos.
No caso dos brasileiros, o cofundador e diretor-executivo do Busuu, Bernhard Niesner credita o sucesso da rede a "uma oferta equilibrada entre aprendizagem de conteúdo, comunidades e recursos, o que usuário brasileiro está procurando". O acesso fácil a um ensino rápido é outro diferencial, afirma. "Com dois eventos esportivos a caminho, as pessoas sabem que falar bem inglês pode ser um diferencial", completa Niesner.
Curso em casa exige motivação
Era esse ensino rápido e prático que a paulista Bárbara Fontes, 27, tinha em mente. Recém-formada em hotelaria e turismo, ela queria reforçar o inglês aprendido em uma escola tradicional durante a adolescência.
"Já fazia aulas de conversação em uma escola dedicada a isso, mas daí alguns amigos comentaram do Busuu e do Livemocha. Optei pelo Busuu. A vantagem é claro, é poder fazer de casa, mas, além disso, interagir e ter uma conversação que é natural e te obriga a treinar bem uma linguagem mais do dia a dia", diz ela.
O administrador curitibano Leonardo Santos, 29, usa a rede Livemocha desde 2011, entre idas e vindas. Começou tentando aprender alemão, idioma do qual já tinha algum conhecimento. Mas as aulas não atenderam às suas expectativas.
"Essas redes trabalham com muita repetição, e isso com o tempo se torna cansativo. Então interrompi o curso quando vi que teria uns 5.000 exercícios de repetição para fazer e pouca teoria gramatical. Fiquei um tempo parado e retomei no início deste ano. Houve uma melhora, mas se não houver motivação e um bom nativo do outro lado te ajudando, é fácil desistir", diz ele.
Santos avalia que a rede é uma boa opção para quem deseja se aperfeiçoar na conversação. "Quem quer aprender algo mais profundo sobre o idioma deve fazer um curso tradicional e deixar esse lado mais prático para uma etapa posterior".
O diretor de marketing do Italki, Ross Cranwell, destaca que o ponto alto das redes sociais de idiomas é mesmo a prática da conversação.
"Muitas pessoas que estudaram línguas em uma escola tradicional por anos ainda não conseguem ter uma conversa básica. O problema com o sistema de ensino tradicional é que falta o elemento mais importante da aprendizagem de línguas: as pessoas. Aqui você entra em contato com nativos para avaliar sua língua e pode trocar outras experiências", avalia.
E não foram apenas os brasileiros que correram para aperfeiçoar outras línguas pegando carona nos eventos esportivos de 2014 e 2016. Cranwell conta que o evento fez aumentar o interesse de estrangeiros em aprender o português no Italki, embora o número de professores nativos ainda seja considerado baixo, apenas 50.
Para iniciantes, intermediários ou para todos?
Como já tinha um conhecimento intermediário da língua inglesa, Bárbara e Santos encontraram nas redes sociais uma forma mais prática de estudar idiomas. Mas e para quem ainda é mero iniciante?
"Poder servir para todos os níveis. Vai depender do design do curso e do suporte que é dado ao aprendiz. Acho importante ressaltar que cabe ao interessado a escolha pela modalidade que lhe agrada mais. O que é bom para um pode não funcionar para outra pessoa", diz Vera.
No caso do Busuu, Niesner afirma que a rede é "para todos". "Oferecemos cursos em doze línguas de níveis A1-B2 (básico ao intermediário avançado), de acordo com a CEFR (Common European Framework of Reference)". O CEFR é um documento que tenta universalizar a descrição de desempenho linguístico de quem está aprendendo inglês, ou seja, funciona como uma referência do que o aluno deve saber após um determinado período de estudo, avaliando se o aprendiz é capaz de se virar bem sozinho.
Para Cranwell, quem tem um pouco mais de conhecimento aproveita melhor a opção das redes. "Para nós, a aprendizagem de línguas sociais é melhor para as pessoas que tenham atingido pelo menos um nível básico ou intermediário. Não é fácil, embora ainda possível, ter uma conversa logo no início da aprendizagem de uma língua", comenta ele.
Fonte: BOL Notícias
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