No domingo passado (1º), o Fantástico denunciou um crime contra a saúde dos brasileiros que mais precisam de ajuda. Tanques de combustível estavam sendo usados para transportar água para vítimas da seca, no Nordeste.
Depois da reportagem, a Justiça, o Exército e o Governo Federal começaram a tomar providências para acabar com esse e outros abusos.
Vítimas da seca recebem água contaminada em caminhões-pipa
Zona Rural de Senador Rui Palmeira, a 250 km de Maceió. Quinta-feira. "Não chegou água aqui ainda", conta a dona de casa Ana Maria da Silva. No domingo passado, o Fantástico mostrou o drama dessa senhora, que tinha água só para oito dias.
Nesta semana, mais uma vez, nenhum caminhão-pipa passou por lá. Em breve, só vai sobrar água no açude. O Fantástico denunciou: prazos de entrega não são respeitados, nem sempre a água é de boa qualidade e tanques de combustível são usados como caminhões-pipa, colocando em risco a saúde das vítimas da seca.
Nesta semana, mais um caminhão pipa com tanque de combustível foi apreendido. “Todas essas pessoas serão responsabilizadas na forma da lei. Isso é um atentado contra a saúde e também contra a vida dessas pessoas”, garante o procurador-geral de Justiça de Alagoas, Sérgio Jucá.
A Justiça de Palmeiras dos Índios, em Alagoas, determinou uma vistoria em todos os caminhões-pipa que atendem a cidade e a suspensão imediata do fornecimento de água feito por veículos que usam tanques que já armazenaram combustível.
“Os pipeiros que foram denunciados pelo Fantástico foram afastados. É possível que desvios apareçam. Agora, temos que punir aqueles responsáveis pelos desvios”, afirma o ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira.
“O que está procurando se estabelecer aqui são estratégias de reforçar a fiscalização na execução da Operação Pipa”, diz o chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, general Carlos Barcellos.
Oficiais e ex-oficiais do Exército são suspeitos de receber propina para fazer vistoria menos rigorosa e liberar os veículos mesmo sem condições. Nos últimos dois anos, a empresa Wash Service recebeu do Exército mais de R$ 4 milhões para distribuir água. Uma das sócias era mulher de um sargento do Exército.
Nesta semana, William Moreira atendeu ao Fantástico na sede da empresa. Diz que saiu do Exército em setembro e, agora, é um dos donos da Wash. Alega que não há nenhuma irregularidade.
Fantástico: Por que o senhor não colocou o nome da empresa no nome do senhor desde o início?
William Moreira (ex-sargento do Exército): Por questões minhas de tratamento de saúde, eu entendi que, naquele momento, poderia ser assessorado. A minha mulher iria administrar e, na minha ausência, cuidar dos interesses da empresa.
O ex-militar fala que houve ‘problemas pontuais’ na distribuição. “Os problemas, referentes a ausência de água, todos foram devidamente informados para que fossem tomadas as providências legais”, afirma William Moreira.
Na semana passada, na região onde vivem parentes do sargento Moreira, só não faltava água na casa da sogra dele. Ele diz que não usou dinheiro público: “A água que eu mando são interesses particulares meus, que eu posso comprar, que eu posso pedir para ser enviado”.
A Controladoria-Geral da União vai fazer um levantamento de todo o dinheiro repassado aos programas de distribuição de água.
Nesta semana, o Fantástico voltou a Alagoas e descobriu que não é só a água que ameaça a saúde da população. Galões foram usados para transportar algum tipo de produto perigoso e estão sendo reutilizados para transportar e armazenar leite.
Lara Barbosa (fiscal da Agência de Inspeção Agropecuária de Alagoas): Foram utilizadas já para agrotóxicos, produtos químicos perigosos...
Fantástico: E não podem ser reutilizados?
Lara Barbosa: De forma alguma.
Quatro laticínios foram fechados. Um dos comércios usava 3 mil litros por dia para produzir queijo. Até insetos é possível ver no leite.
Sem leite de qualidade e sem água limpa para beber e tomar banho, o nordestino Ostílio Aquino, de 81 anos, diz que está cansado de ser tratado como bicho. “Água barrenta é para porco se enlamear, não é para a gente tomar banho”, afirma o aposentado.
Fonte: G1
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