segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

'Suplementos não servem para nada', defendem cientistas

Um em cada dois adultos toma pílulas de vitaminas todos os dias, e os americanos gastam bilhões de dólares ao ano com as suplementos. Agora, um pequeno grupo de médicos que escreve para uma importante revista científica está dando um conselho bem claro: 'Parem de jogar dinheiro fora'.

Em um artigo raro, por apresentar uma opinião categórica, os cinco autores afirmam que, para os americanos saudáveis preocupados com doenças crônicas, não há benefícios claros no consumo de pílulas de vitaminas e minerais. Além disso, em alguns casos elas podem até ser prejudiciais.

A única exceção feita pelos autores foi o suplemento de vitamina D, que, segundo eles, ainda precisa passar por mais pesquisas. Ainda assim, o uso generalizado das pílulas de vitamina D 'não se baseia em evidências sólidas de que os benefícios superem os danos', afirmam os autores. Quanto às demais vitaminas e suplementos, 'o veredito já foi dado'.

'A mensagem é clara', continua o editorial. 'A maioria dos suplementos não ajuda a prevenir doenças crônicas ou a morte, seu uso não é justificado e deveria ser evitado'. 'Temos tantas informações baseadas em tantos estudos', afirmou em uma entrevista a Dra. Cynthia D. Mulrow, vice-diretora sênior da revista Annals of Internal Medicine, e uma das autoras do editorial. 'Não precisamos de muito mais evidências para acabar com essa prática'.

Autoridades da Associação de Produtos Naturais, uma organização comercial que representa varejistas e fornecedores de suplementos, afirmaram que ficaram chocadas com o que chamaram de 'um ataque' ao setor, apontando que um estudo publicado no ano passado revelou uma redução modesta na incidência de câncer em um longo estudo clínico controlado e randomizado envolvendo 15.000 médicos.

'Os integrantes do nosso grupo oferecem e vendem seus produtos para ajudar as pessoas a obterem um estilo de vida mais saudável', afirmou John Shaw, diretor executivo da associação, acrescentando que não entende porque o setor está sendo criticado 'por tentar promover a saúde e o bem-estar'.

A demanda por suplementos de vitaminas e minerais cresceu drasticamente nos últimos anos, com as vendas no mercado americano totalizando 30 bilhões de dólares em 2011. Mais da metade dos americanos utilizava ao menos um suplemento alimentar entre 2003 e 2006 – entre 1988 e 1994 o total era de apenas 42 por cento –, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Os produtos mais comuns são os complexos multivitamínicos e os suplementos minerais, que são consumidos por 40 por cento dos homens e mulheres dos Estados Unidos, de acordo com dados da Pesquisa de Exame Nacional da Saúde e da Nutrição.

Nunca houve uma prova cabal de que o uso regular e prolongado desses suplementos ajudasse a prevenir doenças cardíacas, ou câncer, e os autores do editorial não foram os primeiros a mostrarem isso.

A Cochrane Collaboration, que publica resumos de evidências médicas, também concluiu que o consumo de vitaminas não aumenta a expectativa de vida. Uma revisão atualizada das evidências feita pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA também concluiu que existem evidências limitadas de que o consumo de suplementos vitamínicos e minerais sejam capazes de prevenir o câncer ou as doenças cardiovasculares.

Entretanto, a força-tarefa apontou que dois estudos clínicos revelaram pequenas reduções na incidência de câncer entre homens que tomam complexos multivitamínicos. Todavia, outros estudos mostraram que suplementos de betacaroteno parecem aumentar o risco de câncer de pulmão entre fumantes, conforme destacou o resumo da força-tarefa, e que doses altas de vitaminas A e E causam danos e podem aumentar o risco de morte.

O editorial publicado nos Anais foi acompanhado por dois novos estudos que apontam resultados desalentadores para os complexos vitamínicos quanto à capacidade de ajudar a preservar a função cognitiva e de prevenir ataques cardíacos. Em um estudo envolvendo quase 6.000 médicos maiores de 65 anos, os participantes que consumiram complexos multivitamínicos por mais de uma década tinham a mesma probabilidade de manterem a função cognitiva à medida que envelheciam, se comparados a médicos da mesma idade que haviam tomado placebo.

Porém, a Dra. Francine Grodstein, uma das principais autoras do estudo, afirmou que, uma vez que os médicos costumam ter dietas saudáveis e serem bem nutridos, os nutrientes podem não fazer muita diferença nesses casos. 'Eu acredito que exista espaço para mais pesquisas', afirmou Grodstein, que não escreveu, nem assinou o editorial.

Demonstrar que a prevenção de doenças crônicas pode levar décadas e conduzir estudos de longa duração, randomizados e controlados, é difícil e bastante caro. 'Nós não temos e provavelmente nunca teremos dados de estudos randomizados realizados ao longo de décadas', afirmou.

Os resultados de outro estudo clínico publicado pela revista revelou que doses altas de vitaminas e minerais não evitam futuros problemas cardiovasculares em pacientes com mais de 50 anos e histórico de ataques cardíacos, embora a pesquisa tenha sido afetada por um grande volume de desistentes.

Até o momento foram realizados poucos estudos randomizados sobre os efeitos dos complexos multivitamínicos e de minerais em relação a doenças cardíacas, câncer e ao risco de morte, segundo o Dr. Stephen P. Fortmann, pesquisador sênior no Kaiser Center for Health Research. O esboço de novas recomendações da força-tarefa, baseado em um resumo atualizado, demonstra que existem evidências insuficientes para recomendar ou não o consumo de vitaminas.

Entretanto, Fortmann, que também não escreveu nem assinou o editorial sugeriu que as pessoas que compram vitaminas podem estar 'jogando dinheiro fora', e acrescentou: 'Não acredite que isso compensa uma alimentação ruim, que você pode comer um monte de fast food e depois tomar os suplementos. Essa é uma péssima ideia'.

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Fonte: nytsyn.br.msn.com/

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