O objetivo declarado do Pisa é medir e comparar o quanto e como os países participantes preparam seus jovens para uma vida adulta produtiva. O Pisa olha para o futuro por meio do gigantesco conjunto de dados educacionais que coleta sistematicamente. Desde a primeira edição, em 2000, o programa vem causando grandes mudanças de estado de espírito e de políticas públicas nas economias participantes, mesmo que boa parte delas já fossem, à época, mais desenvolvidas do que o Brasil do ponto de vista social, produtivo e educacional.
Em nós, brasileiros, os números preocupantes, assim como os relatórios técnicos e as grandes movimentações de política educacional nos demais países, causam indignação passageira, mas nenhuma posição substancial. Aceitamos as vergonhas do Pisa como um dado de nossa sociedade, que não só acha que prescinde da excelência escolar, como até a ridiculariza, assim como aceita, convive e saboreia diferenças sociais que os dados evidenciam. Não há comoção entre autoridades educacionais, nem na população em geral, que não se interessa pelos dados, que não os compreende, ou que se supõe a salvo da armadilha de mediocridade na escola privada.
Somos complacentes com termos de deixar 1/5 de nosso futuro fora da amostra (19% em 2009 e 23% em 2012), ou porque ele já está fora da escola, ou muito atrasado, ou porque sua participação pode deixar o desempenho geral ainda mais deprimente. Aceitamos que, na média e depois de bilhões gastos, nossos alunos fiquem concentrados no nível mais baixo da avaliação, com 67% dos que fizeram a prova de Matemática só sendo capazes de responder questões óbvias (um decréscimo dos 75% de 2003, mas uma comparação constrangedora com a média da OCDE, de 22%), e apenas 0,8% cheguem aos níveis mais altos de desempenho (ante uma média de 13,1% da OCDE). Esse grupo estratégico, por exemplo, segundo os próprios relatórios do Pisa (e o bom senso) é o grande reservatório de capital humano e de potencial de solução dos problemas mais complexos de nossa sociedade.
Há um bônus demográfico escorrendo por nossos dedos e estamos paralisados. Não há sinal de concertação política das esferas administrativas (governos federal, estaduais, municipais e iniciativa privada) em torno da qualidade e da equidade. Seremos, então, o País que foi do futuro, mas que não soube construí-lo.
Fonte: estadao.br.msn.com
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