domingo, 17 de agosto de 2014

ÍCONES DA MÚSICA BRASILEIRA: JOSÉ AUGUSTO

José Augusto era um garoto que, como muitos de sua geração, nos trepidantes anos 1960, amava os Beatles e a Jovem Guarda. No bairro de Santa Teresa, onde nasceu e passou a infância, as canções dos quatro garotos de Liverpool só paravam de tocar na vitrola quando os brasileiríssimos astros das jovens tardes de domingo surgiam na telinha. Com os ouvidos treinados desde cedo, o garoto não pensava em outro futuro. “Tinha certeza que eu queria viver de música”, atesta o cantor. Aquele futuro se tornou real e os mais de 20 milhões de discos vendidos não deixam dúvidas. Agora, chegou o momento de olhar pelo retrovisor, especialmente para comemorar 40 anos dessa vitoriosa carreira. E a maneira escolhida não poderia ser outra: com muita música.
Para o artista, até que as quatro décadas passaram bem rápido. Tanto que o ano de 1973, marco zero de sua trajetória artística, está vivíssimo em suas lembranças. “Comecei a compor ainda bem garoto. Com um gravador caseiro, registrei algumas músicas, dez ao todo, e passei a andar com a fitinha no bolso para todo lugar que eu ia”, rebobina. Como o seu sonho sempre foi cantar, ele batia ponto nas gravadoras toda semana. “Eu ficava na recepção olhando aquela porta que levava ao interior, pensando que um dia a cruzaria. Aquela porta, que parecia intransponível, significava muito para mim. Imaginava o que as pessoas conversavam lá dentro. Era o acesso ao mundo que eu sempre desejei”, situa.

Rádios como a Copacabana, que curiosamente ficava na Lapa, também faziam parte da rotina do curioso rapaz. Ele ficava por ali, vendo os artistas já famosos entrarem e saírem do prédio. Toda aquela atmosfera alimentava ainda mais seus sonhos. “Eu estudava à noite. Quando acordava, fazia minhas tarefas e corria para lá. Minha intuição era forte. Sabia que estava aprendendo como aquilo tudo funcionava. Desde que não atrapalhasse os estudos, meus pais me TOUR “40 ANOS NA ESTRADA” deixavam fazer essa peregrinação, pois sabiam que eu era ajuizado, um cara sério, responsável”.
Sua primeira gravação, feita da maneira mais simples possível (um toca-fitas, um violão e muito boa vontade), rendeu. Um belo dia, Renato Correa, do Golden Boys, ouviu a fita. Quando José Augusto apareceu novamente na gravadora, ele deu a notícia que serviu como um divisor de águas na vida do rapaz: tinha sugerido a Cauby Peixoto que gravasse uma das canções. Sim, ele mesmo: Cauby, o mito da música brasileira. “Só por isso, eu já podia me sentir vitorioso. Era um sinal de que estava no caminho certo, que não era perda de tempo”, garante. A música se chamava Meu Filho e as surpresas para o filho de seu Augusto e de dona Sophia não acabavam ali. José Augusto ainda teria a chance de gravar profissionalmente para que Renato pudesse sentir a reação da gravadora.

Ao cruzar a tal porta, o aspirante a artista ficou tal qual uma criança numa loja de doces. Completamente anestesiado, observava as paredes do estúdio, os fones, os microfones, o vai-e-vem dos músicos. Tudo exatamente como sempre sonhou. As dez canções incluídas na fita ganharam então novas versões, com arranjos e orquestração, do jeito que mereciam. José Augusto mal tinha chegado aos 18 anos e já se sentia um vencedor. ˜Quando comecei a frequentar as portarias das gravadoras, tinha apenas 15 anos. Algumas vezes, minha mãe me dava uns trocados para o lanche, pois sabia que eu passaria o dia inteiro por lá, se fosse possível. Ela sentia que eu acreditava no que estava “Fazendo”, conta. TOUR “40 ANOS NA ESTRADA”
A gravação do mestre Cauby Peixoto rendeu seu primeiro cachê em direitos autorais. O bom rapaz saldou algumas dívidas e, com o que sobrou, comprou um aparelho de TV para dona Sophia. Já de olho nele, o produtor Miguel Plopschi, do The Fevers, deu uma quantia para que o rapaz comprasse uma roupinha melhor, afinal ele estava prestes a entrar no mundo do show business. Até que veio o contrato e chance de lançar o primeiro trabalho: um compacto com as músicas De Que Vale Ter Tudo na Vida.
Quando ligaram da gravadora – para a casa da vizinha, pois a família não tinha telefone – dizendo que o disco estava pronto para ir para as lojas, José Augusto saiu voando para lá. Quando voltou para Santa Teresa, desceu do ônibus feito foguete e subiu a escadaria mostrando seu trabalho a cada vizinho que passava. Seu rosto ainda não estampava capa e contracapa, mas o nome José Augusto podia ser lido com clareza no rótulo. “Cheguei em casa com o compacto e ainda um cheque significativo. Prometi aos meus pais que nunca faltaria nada para eles. Dali em diante, eu iria arcar com tudo, para dar o máximo de conforto a eles”, relembra.
Estamos em junho de 1973. E muita coisa ainda estava por acontecer. O radialista Haroldo de Andrade acreditou na música e ajudou a transformar De Que Vale Ter Tudo na Vida no grande sucesso que é até hoje. O compacto começou a vender “absurdamente”, como o próprio José Augusto frisa. E logo pintou a necessidade de um disco completo. O rapaz entrou em estúdio e começou a idealizar o que seria esse trabalho. Nas horas que sobravam, viajava o Brasil para visitar as rádios e as redações de jornais. O disco chegou às lojas em dezembro do mesmo ano. Agora com a foto do artista na capa e muita música para ser ouvida. TOUR “40 ANOS NA ESTRADA”
Chegaram os primeiros pedidos de show, os convites para os programas de televisão. O rapaz se transformava rapidamente em artista. Daí em diante, foi um disco atrás do outro, com êxito não só no Brasil como em vários países da América Latina. As gravações em espanhol também ficaram frequentes. “Comecei a ser levado para a Argentina, Espanha, Colômbia e México para fazer a divulgação. Queria abraçar o mundo inteiro”, comenta, acrescentando que – se pudesse voltar no tempo – faria diferente. “Focaria mais no Brasil. Eu mal tinha pisado firme aqui e já tinha uma carreira internacional. Não acho que foi uma boa estratégia”.
Boa ou não, o que se sabe é que José Augusto enfileirou um sucesso atrás do outro, transformando-se em um dos grandes nomes da música romântica brasileira em todos os tempos. Mesmo assim, continuou o rapaz pacato de Santa Teresa. “Nunca me achei um ídolo, um astro. Sou um cara que sempre batalhou para ter seu espaço. Nada caiu do céu”, comenta. “Ter essa consciência me salvou de muita coisa, ainda mais numa carreira com tantos altos e baixos. Nunca me achei ‘o’ cara”, garante. Não é o que os fãs pensam.
Na nova turnê, José Augusto reuniu as músicas que tiveram como vitrine uma das paixões nacionais: as novelas. Sucessos como Aguenta Coração , abertura de Barriga de Aluguel, o tema da novela Sonho Meu, Querer é Poder, que contou com a participação de Xuxa, De Igual Pra Igual (Bebê a Bordo ) e Eu e Você (Tieta) são outros destaques.
Com tantos sucessos, não é exagero afirmar que ele é um dos campeões de trilhas sonoras. E o curioso é que José Augusto sempre contou com um termômetro muito especial para saber se suas músicas estavam bem colocadas em cada história: dona Sophia, sua mãe, que nunca deixou de ligar para comentar uma cena embalada pela voz do filho. TOUR “40 ANOS NA ESTRADA”
No set list estão os primeiros sucessos do artista, começando – claro – por De Que Vale Ter Tudo na Vida. Me Esqueci de Viver, versão do hit de Julio Iglesias, reafirma o grande intérprete que José Augusto sempre foi. Querer e Perder, e Tudo Deu em Nada, também não foram esquecidas.
No decorrer do show, figuram os clássicos de seu repertório, aqueles que não podem faltar em nenhum show, como Sábado, Chuvas de Verão , Fui Eu, Sonho por Sonho, Evidencias, Amantes, Indiferença e seu mais recente sucesso Quero Me Apaixonar, gravado em seu ultimo DVD.Para a nova turnê, José Augusto preparou novos arranjos, e convidou Daniela Rodrigues para a cenografia, os lighting designers Rogerio Marreiro e Rodrigo Valdrighi, e uma equipe de 22 pessoas composta pelos músicos Mauro Almeida (violões e guitarras), Humberto Crispim(violões e guitarras), Décio Crispim(baixo), Maurício Lemes (teclados), Paulo Ribeiro (bateria), Val Oliveira (sax e flauta) e Cris Reis (vocais), Patrícia Costa (vocais), Elizeu Cândido (Trompete) e Altair Martins (Trombone).
Olhando para trás, José Augusto se assusta com a rapidez com que o tempo passou. Mas como dizia o poeta Cazuza, o tempo não para. E, do mesmo jeito que ele nunca planejou uma trajetória tão longa e bem-sucedida, segue de mansinho, trabalhando no que sabe fazer de melhor: música. “Sempre vivi um dia de cada vez. Não ficava pensando se minha carreira iria longe. Só queria que as pessoas ouvissem meu som”. Para a felicidade dos fãs, ele acredita que sua carreira está – ainda – apenas começando.
Fonte:http://joseaugusto.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário