Susana Pérez de Pablos
Do El País, em Madri (Espanha)
Do El País, em Madri (Espanha)
"Liguem os telefones celulares." Quando esta for a primeira frase que o professor disser a seus alunos ao entrar na classe, em vez de mandar que os desliguem, a mudança será real. No mundo atual, plenamente digitalizado, a entrada da tecnologia na educação não tem retorno.
Muitos lembraram que o mesmo aconteceu há décadas com as calculadoras. Antes proibidas em classe, passaram a ser usadas para aprender. Depois que a criança já sabe somar, sua utilidade para resolver problemas mais complexos é evidente.
O mesmo acontece com a tecnologia existente hoje. Todos os suportes (celulares, tablets, notebooks...) são úteis para aprender, e não só na classe. O aprendizado tornou-se onipresente, e a classe perdeu seu protagonismo. Esta é uma das teses de especialistas internacionais que estarão sobre a mesa durante a 29ª Semana Monográfica da Educação da Fundação Santillana, que começa nesta terça-feira (24) em Madri, com o título "Melhorar a educação: como a tecnologia pode contribuir?".
Para esquentar os motores, expomos aqui as principais razões que estão levando todo o mundo a usar todo tipo de suporte em aula:
O aluno leva toda a informação consigo, a movimenta, intercambia, compartilha em rede, fora e dentro da classe. Desta forma, aprende de maneira intuitiva, mesmo sem estar consciente disso. O celular é a chave para os estudantes. "Chegará um dia em que o professor dirá aos alunos no início da aula: 'Liguem os celulares', em vez de mandar desligá-los", explica o diretor de educação da Fundação Santillana, Mariano Jabonero. Há tempo já se dizia que o mouse do computador tinha se transformado no prolongamento do braço das novas gerações de crianças e jovens. Mas hoje seu celular o é ainda mais.
Aplicativos contribuem na educação
A classe não é mais o único lugar onde se aprende. O uso de aplicativos educacionais como complemento das disciplinas começa a ser uma realidade. E as iniciativas de empreendedores para criá-los são cada vez mais numerosas. O setor calcula que atualmente existam mais de 80 mil apps educativos. São gratuitos e ajudam a aumentar a motivação do aluno. Muitos professores e especialistas insistem em sua utilidade durante a aula. Os conteúdos vêm de fora da classe, na qual entram pela tecnologia através dos celulares e outros suportes.
Professores também estão familiarizados
O professor sabe usar a tecnologia como o aluno. "O tópico de que os alunos usam mais a tecnologia e estão mais familiarizados com ela do que os professores se rompeu", lembra Jabonero. Essa premissa, que era repetida incansavelmente há anos, não é mais verdadeira. Todo mundo usa a tecnologia em sua vida cotidiana e profissional, seja para enviar mensagens, navegar, jogar, ouvir música ou alguns, inclusive, para ensinar. Sem mencionar que muitos professores que hoje atuam na educação não universitária já pertencem a gerações que nasceram na era tecnológica.
Recursos digitais já estão disponíveis
A transformação da educação pela tecnologia tem três pés: os recursos digitais com os quais se dotam a classe e os alunos (desde as lousas digitais aos computadores), o acompanhamento do professorado e um currículo digitalizado. E os recursos já não são a matéria pendente, ressaltam os especialistas. De fato, 85% dos centros secundários nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) já em 2012 estavam dotados de computadores de mesa; 41% de portáteis e 11% de tablets, segundo dados da organização. Os passos seguintes são ampliar o currículo digital, assim como o acompanhamento e o apoio do professorado no ensino com esses materiais.
Professores aprendem diretamente com especialistas
Os professores não vão mais a cursinhos para aprender a usar a tecnologia. Não é esta a solução, está mais que comprovado. Hoje em dia o acompanhamento do docente é feito por especialistas em tecnologia nas próprias escolas, explica Jabonero. Eles recebem apoio em campo no uso de todas as ferramentas que integram o currículo digitalizado (que tem diversos recursos, como ilustrações animadas, vídeos, visitas virtuais, fóruns...). Muitos especialistas citam o caso do Uruguai como exemplo da importância desse apoio. O país informatizou todas as escolas, mas não dotou os professores de ferramentas para usar esses novos recursos. A conclusão foi que diminuíram os resultados dos alunos, segundo se viu nas notas que obtiveram na avaliação internacional do programa Pisa, da OCDE.
"Coordenador tec" supervisiona os sistemas nas escolas
Nos últimos anos foi criada a figura do "coordenador tec" nos colégios, exatamente pela razão anterior: para facilitar sua boa utilização com o fim de que se traduza em um sistema melhor e mais eficaz de aprendizado para os alunos. Diversos colégios espanhóis já contam com eles. O coordenador tec é o responsável e supervisor do uso da tecnologia nas aulas. Faz o acompanhamento do professorado e de sua adaptação ao currículo do colégio.
Investimento geral em tecnologia é cada vez maior
O gasto público em tecnologia cresce nos países mais avançados, apesar de diminuir o gasto em educação. Países como EUA ou Inglaterra seguiram essa linha em plena crise. Mas nem sempre o investimento em tecnologia para a educação se traduziu em uma melhora dos resultados dos alunos. De fato, alguns países que menos investem nela (como Finlândia, Japão ou Coreia do Sul) saem nos primeiros lugares das provas Pisa, assim como outros que, pelo contrário, investem muito nela (como Cingapura, Países Baixos ou Estônia).
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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