Professor de matemática em duas escolas de Salvador, no subúrbio ferroviário, Vanildo dos Santos Silva desenvolve, desde 2004, o projeto Uso de Materiais Manipuláveis nas Aulas de Geometria com Estudantes em Situação de Defasagem Escolar. O trabalho, que teve início na Escola Municipal da Fazenda Coutos, em um dos bairros mais pobres e violentos da região, surgiu de uma necessidade real, o desafio de ensinar matemática a estudantes com histórico de abandono, evasão e repetência.
“Desde meu primeiro contato com os alunos, percebi que, antes de iniciar qualquer intervenção pedagógica, minha prática docente precisaria ir além da lousa e do giz”, revela Vanildo. “As dificuldades apresentadas estavam evidentes e se constituíam em um desafio pessoal.”
O professor passou a pensar, então, em uma estratégia que apresentasse a linguagem matemática com aspectos concretos do cotidiano dos estudantes, sem perder de vista a parte formal e suas conexões. Sua intenção era propor “um modelo diferenciado” para trabalhar com matemática e assim induzir os estudantes a participar das aulas.
“Qualquer trabalho por meio da valorização de fórmulas, conceitos e propriedades, sem demonstrações, não representaria um modelo eficaz para a melhoria da qualidade de aprendizagem dos estudantes em situação de defasagem escolar”, diz o professor. Assim, em sua proposta de ensino de geometria, ele buscou o que é sugerido pelos parâmetros curriculares nacionais: “Um trabalho que enfatiza a relação entre os conteúdos estudados em sala de aula com as formas geométricas presentes no mundo físico, possibilitando a exploração de formas geométricas planas e espaciais”.
O projeto tenta estabelecer um diálogo entre os quatro blocos de conteúdos da matemática: números e operações; espaço e forma; grandezas e medidas e tratamento da informação. Os estudantes podem assim comparar e discernir aspectos como largura, comprimento, volume, número de faces e vértices, entre outros. “Quando os estudantes foram levados a explorar situações por meio de materiais manipuláveis, sentiram-se mais motivados e, por conseguinte, engajaram-se de maneira mais efetiva nas aulas e alcançaram melhores resultados na aprendizagem”, avalia.
Permanência — A finalidade do projeto está centrada em dois pontos cruciais: a permanência do estudante em sala de aula e a ruptura do autoconceito de “aluno fracassado”. Assim, de acordo com Vanildo, por mais que existam conteúdos que precedam outros, a hierarquização entre eles não deve ser tão rígida como tradicionalmente é apresentada. Os conteúdos devem ser organizados em função de uma conexão, na qual não precisam ser esgotados necessariamente de uma única vez. “Para que o projeto tenha êxito, principalmente na questão da permanência do aluno, é preciso estar atento à ênfase maior ou menor que deve ser dada a cada item, que pontos merecem mais atenção e quais não são tão essenciais”, ressalta o professor.
Segundo Vanildo, o projeto é desenvolvido também com alunos do Colégio Estadual Monteiro Lobato, no mesmo bairro. Ao longo dos anos, o trabalho tem passado por várias adequações.
Com o projeto, Vanildo foi premiado em duas edições do Prêmio Professores do Brasil (2004 e 2013). “Isso representa a confirmação de que esforços como esse podem ser úteis na busca por respostas de como lidar com a situação de defasagem escolar e questões relacionadas às dificuldades de aprendizagem”, ressalta o professor. Há 19 anos no magistério, Vanildo tem licenciatura em matemática e em ciências contábeis e especialização em planejamento e prática de ensino superior.
Fátima Schenini
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