Ronaldo Marques
do BOL, em São Paulo
do BOL, em São Paulo
- Arquivo pessoal5.dez.2014 - Criador do "#Artmobile", Giuliano (esq.), posa ao lado de Igor (dir.), 'padrinho' do projeto
Você já pensou em usar seu celular para criar arte? Pois essa é a ideia por trás do projeto "#Artmobile", criado pelo diretor de TV Giuliano Chiaradia, do Rio de Janeiro, e desenvolvido em diversas oficinas no Brasil e no mundo por crianças e jovens. O conceito básico é mostrar que os aparelhos podem servir como ferramenta para a criação de filmes, fotografias, literatura, esculturas e mais.
Aliás, de arte no celular Giuliano entende. Ele foi responsável por rodar um filme longa-metragem inteiro usando apenas celulares. Com três aparelhos, criou "5#calls", com roteiro digitado em cenas de 180 caracteres. A filmagem e a edição também foram realizadas pelo celular, e até o elenco recebia suas falas por meio de mensagens de texto. O longa foi destaque no Festival de Cannes, na França.
"Queremos ensinar crianças e jovens a produzir arte e conteúdo tecnológico com uma ferramenta que está no seu bolso", conta Giuliano. Para ele, o celular está presente em todos os lugares e é uma forma democrática e colaborativa de desenvolver novas ideias. "Os participantes acabam expressando suas emoções e dificuldades nas ideias, e o telefone celular permite que isso aconteça com naturalidade", conta.
No Brasil, o projeto já percorreu diversos Estados, envolvendo comunidades que usaram o aparelho das mais variadas formas. "No Ceará, jovens carentes tinham o telefone celular, mas a maioria não sabia o que produzir. Durante uma oficina, mostramos todos os recursos possíveis e, por mais que a maioria tivesse um modelo simples, conseguimos produzir arte que emocionou. Uma garota de 17 anos, portadora de HIV, usou peças de telefones reciclados e criou uma escultura em formato de coração", afirma Giuliano.
A iniciativa, que ganhou o mundo, prega que é possível fazer arte com o celular que está no bolso em qualquer lugar do planeta. "Na Etiópia presenciamos um artista de rua compor uma melodia original usando apenas o som das teclas numerais do seu celular. Já na Palestina, jovens de um grupo de teatro local criaram uma campanha antitabagismo usando recursos simples de foto e vídeo", relembra o diretor de TV.
Jovens participantes
Foi em uma dessas oficinas fora do país que o projeto alcançou o produtor de audiovisual Igor Pirola. "Eu conheci o "#Artmobile" em 2011, quando estava na equipe de produção de uma mostra de cinema brasileiro na Tanzânia. Após participar, mudei minha visão sobre celulares. Comecei a olhar para o meu próprio com outros olhos, ou melhor, comecei a utilizá-lo com outros dedos. Foi muito interessante ter me envolvido", diz Igor, que se alinhou tanto aos objetivos do projeto que foi convidado por Giuliano para ser uma espécie de "padrinho".
Igor afirma ainda que vê o compartilhamento de ideias como uma maneira democrática de aproximar pessoas, povos e culturas distintas. Ele acredita que entregar uma forma de expressão de arte pode servir para quebrar barreiras. "As últimas edições do projeto foram realizadas em Ramallah (Palestina) e Tel Aviv (Israel) e esse era um dos nossos grandes sonhos: incentivar os jovens desses países a produzir conteúdos e compartilhar com outros que, por toda questão histórica, eram considerados 'inimigos'".
Renato Xavier de Lima, analista de tecnologia e empreendedor, também participou do projeto. Ele mora em Jundiaí, no interior de São Paulo, mas foi até o litoral do Estado para participar de uma oficina em Santos, em setembro de 2011.
Em pouco mais de três anos, ele já participou de um programa da Universidade Draper no Vale do Silício, importante centro de tecnologia da Califórnia (EUA), onde cursou empreendedorismo criativo, e também desenvolveu com amigos o aplicativo "Vai de Bus", voltado para os usuários do transporte público de Jundiaí, mas ainda lembra com saudades do projeto.
"Durante dois dias de workshop foi possível entender até onde a simplicidade de um projeto pode nos levar. Giuliano apresentou seus cases utilizando o telefone celular e isso foi uma inspiração para todos os participantes, afinal não são todos os dias que você ouve alguém dizer que fez um filme 100% no celular e depois foi parar no principal festival de cinema do mundo em Cannes, na França. Isso transcende qualquer limite supostamente imposto por um dispositivo, quando na verdade o limite está nas nossas mentes", relembra o jovem empreendedor.
Renato conta ainda a importância de compartilhar suas criações. "Diariamente estamos compartilhando, sejam nossos espaços, nossas comidas, nossos livros e por aí vai. É interessante o que acontece quando levamos essa forma de compartilhar para o mundo digital por meio de um celular, por exemplo; tudo se amplifica. Tem uma frase que eu gosto muito e que resume bem isso: Você é o que você compartilha", finaliza.
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