sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sem o "Fico" de dom Pedro, Brasil poderia ter se dividido em vários países

Thiago Varella
Do UOL, em Campinas (SP)
  • Arte UOL
Pressionado por um lado pelas cortes portuguesas que queriam seu regresso, e por outro pela burguesia brasileira que contava com sua presença, dom Pedro declarou: "Se é para o bem de Portugal e felicidade geral da coroa, estou pronto! Digam a todos que volto".

Por isso, a independência do Brasil se desenrolou com derramamento de sangue e vários países se formaram a partir da antiga colônia portuguesa.

ATENÇÃO: essa é apenas uma hipótese. Há exatos 193 anos, dom Pedro tomou uma atitude contrária e, sob influência dos então donos do poder no Brasil, disse a célebre frase para determinar que não voltaria à Portugal: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".

Seria um dos principais passos tomados pelo príncipe regente em direção à total independência do Brasil, por mais que, naquele momento, este não fosse o objetivo.

Portugal queria o retorno imediato de dom Pedro, então príncipe regente do Brasil com o pretexto de que terminasse seus estudos na Europa. A intenção era a de retirar da América um membro da família real que pudesse atuar em favor da burguesia local e não das cortes portuguesas, que planejavam transformar o Brasil novamente em colônia.

"O Dia do Fico tem uma importância simbólica e prática muito forte. Significou a insubordinação final do príncipe regente frente a uma determinação expressa das cortes portuguesas", afirma o historiador Marcelo França de Oliveira, autor do livro "Diga ao Povo que Fico - Os Antecedentes da Independência do Brasil".

Mas, e se dom Pedro, em vez de ficar ao lado da burguesia brasileira, tivesse atendido aos interesses da coroa portuguesa e partido para sua terra natal? E se o Dia do Fico nunca tivesse existido?


E se...

Bem, que fique claro que "se" não é história, mas quase um exercício de ficção. Segundo Oliveira, baseado nos indícios do momento, é possível especular. Dom Pedro continuaria seus estudos e sucederia seu pai, dom João 6º, no trono português.

E o Brasil? "Teríamos dois cenários possíveis: o primeiro, as cortes poderiam ceder e manter o Brasil como Reino Unido, e isso retardaria em algumas décadas a independência; ou, no caso de o parlamento português insistir em medidas recolonizatórias, o Brasil caminharia mais rapidamente para a separação de Portugal", disse Oliveira.

Sem dom Pedro, figura que mantinha a coesão da burguesia brasileira e legitimava o movimento de resistência à recolonização, a independência brasileira ocorreria, mas de maneira totalmente diferente.

"O Brasil mais cedo ou mais tarde também desencadearia os seus processos de independência, mas isso se daria de capitania em capitania, ou em regiões específicas, não necessariamente ao mesmo tempo e atingindo boa parte ou a sua totalidade em um período não muito distante de 1822", especula Oliveira.

Para o historiador, Portugal não teria condições de manter colônias deste vasto território com os meios de que dispunha naquele momento. O Sul e o Sudeste seriam os primeiros a romper com Portugal. Além disso, a independência não ocorreria de forma pacífica.

"Por aqui haveria, fatalmente, derramamento de sangue, justamente por faltar as condições da transição tal como se deu e, principalmente, pela figura simbólica em torno das quais os diferentes setores que compunham a sociedade brasileira, em especial suas elites, se aglutinariam", disse Oliveira.

Além disso, a "América Portuguesa" poderia ter outra configuração de fronteiras e, até mesmo, se fragmentar, com a formação de vários países.

"Uma das possibilidades do caso seria a fragmentação do Brasil. A tendência era a independência desigual. Havia regiões e grupos que achavam que viam uma filiação maior com Portugal do que com o Rio de Janeiro", explicou a historiadora Isabel Lustosa, da Fundação Casa de Rui Barbosa, autora do livro "D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter".
Segundo ela, a presença de dom Pedro foi fundamental para garantir a unidade do Brasil, já que a monarquia era vista como uma instituição estável. "O Brasil se manteve unido por causa da monarquia. Fatalmente, aconteceria por aqui o que ocorreu nas colônias espanholas", afirmou Isabel.

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