quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Universitários fazem curso técnico em busca de vaga no mercado de trabalho

Ruth Costas
Em São Paulo
  • Ruth Costas/BBC Brasil
    Tábata Martins ficou com medo de não conseguir trabalho apenas com o curso de Artes
    Tábata Martins ficou com medo de não conseguir trabalho apenas com o curso de Artes
Universitários e profissionais com curso superior já procuram cursos técnicos como uma forma de tentar garantir um lugar ao sol no mercado de trabalho.

É esse o caso de Tábata Martins, de 19 anos. Sua família queria que ela fizesse Direito, mas Tábata decidiu "seguir o coração" e entrou na faculdade de Artes na PUC.

"O problema foi que quando passei a conversar com meus colegas sobre o mercado para essa área me bateu aquela insegurança, um medo de ficar sem emprego", conta ela.
A solução foi se matricular em um curso técnico de Design Gráfico.

"Não adianta ter teoria ou saber desenhar --me disseram que para arranjar trabalho na área eu teria de dominar as técnicas de desenho no computador e é o que estou tentando aprender", conta a jovem, que agora sonha em trabalhar em um estúdio de quadrinhos.

Paloma Cristina dos Santos é outro exemplo. Ela já fazia o curso superior de enfermagem, de cinco anos, na Faculdade Anhanguera, quando se inscreveu em um curso técnico de Enfermagem, de um ano e meio, na mesma área para poder "começar a trabalhar logo".

"Não dá para esperar cinco anos. Quero ver o quanto antes como é o dia-a-dia da profissão", diz ela. "Além disso, no momento há mais emprego para técnico em enfermagem que para enfermeira formada."
Ruth Costas/BBC Brasil
Paloma Cristina (dir) resolveu fazer um curso técnico para começar a trabalhar o quanto antes
Edna Aparecida de Oliveira, estudante do curso superior de Fisioterapia, está cursando o técnico de Massoterapia para trabalhar como autônoma enquanto termina os estudos.

Já Rodrigo Fujita, estudante de engenharia, vê no curso de técnico em eletro-eletrônica uma forma de começar a construir uma carreira.

"A ideia é tentar entrar em uma empresa como técnico - o que é mais fácil - e depois que conseguir meu diploma de engenheiro, crescer lá dentro", diz.
Ruth Costas/BBC Brasil
Rodrigo Fujita acha mais fácil entrar como técnico em uma empresa do que como engenheiro

Empregabilidade

Entre os fatores que parecem ter influenciado esses alunos a tentar "acumular" certificados técnicos com o diploma de curso superior está, primeiro, a questão da empregabilidade.

Uma pesquisa recente da Consultoria ManpowerGroup, por exemplo, concluiu que os cargos técnicos e de profissionais com habilidades técnicas específicas estão entre os postos que as empresas mais têm dificuldades para preencher hoje no Brasil.

"Esse é atualmente um dos grandes gargalos da economia brasileira – e quem investir nas qualificações e habilidades técnicas certas vai encontrar muitas oportunidades no mercado", diz Marcia Almstrom, diretora de RH do ManpowerGroup Brasil.
Ruth Costas/BBC Brasil
Edna Aparecida de Oliveira quis abrir um outro campo de atuação com o curso técnico
O segundo fator que parece fazer a diferença para o "acúmulo" dos certificados é fato do o curso técnico ser gratuito.

Todos os alunos acima são estudantes do Pronatec, programa no qual o governo paga para instituições de ensino públicas e privadas proverem cursos profissionalizantes a um público variado, que vai de estudantes e jovens egressos do ensino médio a desempregados, beneficiários de programas sociais e trabalhadores querendo se requalificar.

Seu objetivo é reduzir a escassez de profissionais com qualificações específicas e ajudar a ampliar a produtividade do trabalho no Brasil - embora especialistas critiquem a falta de estudos independentes sobre o impacto do programa tanto para aqueles que buscam trabalho quanto para as empresas que procuram profissionais no mercado.

Os estudantes universitários e profissionais com ensino superior não são um público preferencial do Pronatec. Mas ainda assim chegam a representar 25% das 58 mil inscrições em cursos do programa feitas pelo grupo Kroton Educacional – conglomerado que inclui, entre outras, a Faculdade Anhanguera, a Pitágoras e a Uniban.

Em parte, alguns desses estudantes de graduação parecem ser atraídos pelo programa também por uma facilidade logística.

As faculdades particulares passaram a ser habilitadas pelo governo para oferecer o Pronatec no final do ano passado.

A partir de então os universitários dessas instituições começaram a dividir espaço com os estudantes do ensino técnico e passaram ser expostos a propaganda e folhetos informativos dessas faculdades sobre o programa.

"Eu já estava por aqui mesmo, então se o curso técnico não tem nenhum custo, porque não me inscrever?", diz Fujita, que também trabalha no laboratório da Faculdade Anhanguera.

"Com certeza o curso técnico só vai me ajudar a me qualificar mais."

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