Do UOL, em São Paulo
- Reprodução/FacebookDiego dá aulas em um restaurante popular da região da 25 de março, em São Paulo
Um jovem para em frente à fila de um restaurante popular, tira uma lousa da mochila e começa a se apresentar. Os presentes se olham, acham estranha a intervenção repentina, mas logo ficam atentos.
"Olá, meu nome é Diego Macedo, tenho 25 anos e sou psicólogo. Hoje eu vim aqui para falar sobre a raiva", diz. "Ei pessoal, o que é a raiva? Por que a sentimos? Vocês já pararam para pensar nisso?", questiona.
Assim, de maneira espontânea, Macedo atraiu olhares interessados – e muitos outros desconfiados – de pessoas que aguardavam a vez na fila do restaurante popular Bom Prato de Santana, zona norte de São Paulo, que oferece almoço por 1 real. A reportagem o acompanhou em setembro deste ano.
"As aulas acontecem em qualquer lugar em que é possível ensinar. A ideia é tentar entender a rua como uma forma inclusiva de educação. Entender também que esse é um espaço de aprendizagem", resume o professor ao explicar o conceito do seu projeto, chamado Escola de Rua.
O jovem destaca que precisou criar um método para que suas aulas fossem mais eficientes. "Durante a primeira aula que dei na entrada do Bom Prato percebi que eu precisava ser bem sintético para transmitir aquilo que eu queria e não perder a fila. Foi então que calculei que eu tinha mais ou menos de dois minutos e meio a três para isso", diz.
Como tudo começou
A ideia de sair dando aulas pelas ruas da cidade surgiu em julho de 2014, enquanto Macedo frequentava um restaurante popular localizado na Lapa, zona oeste da capital paulista. Em suas idas ao bairro, sempre via um rapaz tocando violão para entreter os que aguardavam na fila.
"Foi aí que pensei: poxa, ele está fazendo uma arte. O que eu poderia fazer também para transmitir algo e tentar ganhar alguma coisa ao mesmo tempo?!". A partir desse questionamento, ele concluiu que dar aulas seria sua "arte' para as pessoas.
Segundo o professor, o projeto Escola de Rua foi tomando forma com a ajuda dos ensinamentos do curso de empreendedorismo social que realizou na escola Estaleiro da Liberdade, também em São Paulo. Ele diz que saiu de sua cidade natal, Petrópolis [Rio de Janeiro], e veio para São Paulo em busca de liberdade e autoconhecimento. Com pouco dinheiro e sem lugar para ficar na capital paulista, o rapaz conseguiu apoio do Estaleiro, localizado na região da Vila Madalena.
"A ideia [do curso] é aprender a fazer aquilo que a gente gosta e tentar ganhar uma grana com isso também", explica.
Recentemente, o psicólogo conseguiu arrecadar R$ 5,335 no Cartase, plataforma de financiamento colaborativo. Com as contribuições, ele promete fazer com que a Escola de Rua atue por quase dois meses – além de conseguir custear sua estadia em São Paulo. Para manter cada dia de aula, são necessários R$ 100, de acordo com a proposta do projeto.
Além de manter a Escola de Rua, Macedo deseja ampliar a iniciativa e convida qualquer pessoa que queira dar aula nas filas, nas ruas, em praças e parques a entrar em contato com ele. Até setembro, já existiam 46 pessoas interessadas. A agenda das atividades é publicada na página do projeto no Facebook.
"Isso tudo é a educação fora da caixa, fora de um ambiente fechado de salas, universidades. Todo mundo é um educador. Todo mundo que tem uma experiência para passar pode transmitir seus conhecimentos", conclui.
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