Em São Paulo
Entre uma classe de geometria e outra de história, escolas particulares de São Paulo têm reservado tempo para uma aula que não é de uma disciplina, mas se refere a todas. Chamadas de tutoria ou estudo monitorado, as atividades têm o objetivo de ensinar o aluno a estudar. O esforço serve como empurrão para os menos disciplinados e de guia para quem, mesmo debruçado nos livros, não consegue notas boas.
A proposta é ajudar na organização de tarefas e pesquisas, além de preparar para os testes. Outro objetivo é dar dicas sobre a melhor forma de fixar cada conteúdo. Em Matemática, praticar com vários exercícios ajuda no aprendizado, por exemplo. Em geografia, sublinhar trechos do livro e fazer esquemas com os principais conceitos são boas estratégias.
No Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, zona sul da capital, a tutoria passou a ser oferecida neste ano, no contraturno, aos alunos do ensino fundamental 2, do 6º ao 9º ano. "Nessa faixa etária (de 11 a 14 anos), é difícil mostrar o quanto é importante criar um hábito de estudos", explica Adriana Tiziani, coordenadora da escola. Outra vantagem é afastar os adolescentes das distrações extraclasse. "Se eles vão para casa, ligam o celular ou a TV", diz ela.
Carlos Alberto Ohara, do 8º ano, já trocou parte das horas de videogame pelos cadernos. "Eu sempre fazia a lição de casa, porém não relia a matéria. Não achava que tinha necessidade", admite ele, de 13 anos. "Se relemos, vamos lembrar mais e fica mais fácil para a prova", diz.
Segundo a escola, a proposta tem base na neurociência: a estratégia de estudo define se o conteúdo fica na memória de curto prazo, como na "decoreba" da véspera do exame, ou de longo prazo. Além da releitura, há incentivo a tirar dúvidas com o professor-tutor e discutir com os colegas. Essas aulas são cobradas à parte, além da mensalidade. O valor depende do número de encontros na semana.
Rotina apertada
No Colégio Joana D'Arc, no Butantã, zona oeste, o estudo monitorado serviu, neste ano, para aproveitar melhor o tempo dos alunos do ensino fundamental 2. Como a escola é de tempo integral, era complicado se dedicar às disciplinas após a volta para casa. Essa atividade dá espaço para que o aluno faça a lição no colégio, com supervisão do professor. "A permanência do aluno por mais horas na escola é uma tendência mundial, mas são necessárias adaptações", afirma o diretor José Carlos Pomarico.
De acordo com ele, a vantagem desse formato é mostrar ao jovem as características de estudo das diferentes matérias e os pontos principais de cada conteúdo. "A escola não pode pressupor que o aluno é especialista em tudo", diz.
Fernando Yoshida, no 8º ano do fundamental, aprovou a iniciativa da escola. "Às vezes, a professora nos divide em grupos de estudos ou fazemos a lição de casa juntos. É bem interessante o ambiente que se cria", diz ele, de 13 anos. "Antes, tínhamos problemas de tempo para fazer tudo em casa", diz. A aula, parte da grade curricular, ocorre duas vezes por semana.
Passo a passo
No Colégio Pentágono, no Morumbi, zona sul, a ajuda ao aluno varia segundo a faixa etária. Para os mais novos, o professor orienta até na organização do armário, de como manter todos os livros e cadernos visíveis, e da agenda, para não perder nenhuma tarefa programada. As estratégias recomendadas também variam de acordo com o perfil do aluno e da disciplina.
Sublinhar palavras-chave, fazer resumos e mapas conceituais são dicas. "O tutor também fala sobre os cuidados com as perguntas nas provas. Prestar atenção se o enunciado pede para comparar, justificar ou relacionar problemas", explica Américo dos Santos, coordenador do fundamental 2.
No Pentágono, a disciplina existe há oito anos e integra a grade curricular. Mais do que indicar os pontos de chegada, de acordo com Santos, o colégio deve mostrar o caminho correto para aprender. "O óbvio, que é importante, às vezes não é visto. A tutoria ajuda nisso", sustenta.
Giulia Moreira, do 8º ano, conseguiu melhorar o desempenho. "Antes eu lia um texto e escrevia sobre ele, mas não estava aprendendo o conteúdo, só decorando", diz. Com recursos simples, como nomear parágrafos e procurar significados no dicionário, ela melhorou a interpretação. "Não quero aprender para a prova, mas para a vida", diz ela, de 13 anos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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