Em São Paulo
Quando o assunto é difícil, só a explicação do professor não basta - e vale recorrer ao colega para uma mão amiga. A tradicional cooperação entre alunos se tornou parte da grade curricular de alguns colégios privados, que montaram projetos em que o estudante é tutor do próprio colega. Essa troca de informações, afirmam as escolas, ajuda no aprendizado e na conquista de autoestima dos jovens.
No Colégio Rio Branco, em Cotia, na Grande São Paulo, o trabalho com alunos tutores começou no ano passado, com os ensinos fundamental 2 e médio. Uma das vantagens é a explicação do conteúdo com uma linguagem mais próxima e exemplos próprios ao universo do adolescente.
"Na aula, às vezes alguém pergunta e o professor não entende por causa do jeito e das palavras que o aluno usa. Eu consigo entender mais fácil", diz Júlia Dias, do 1º ano do ensino médio. "Depois, alguns professores até perguntam para nós como explicamos a matéria", diz ela, de 15 anos, que deu lições de Álgebra aos colegas.
Um deles é Lucas Marzocca, também do 1º ano. "O jeito que eles ensinam me dá mais confiança porque era de uma maneira que eu conseguia fazer", conta o jovem, de 15 anos, que melhorou as notas em Matemática após participar da tutoria no ano passado.
Segundo o Rio Branco, o mesmo ocorreu com praticamente todos que se envolveram na atividade, inspirada em um modelo finlandês.
Autoestima
Quem é supervisionado em uma disciplina pode orientar o amigo em outra. Marzocca tem menos intimidade com os números, mas se dá bem em História. Além de contribuir com os colegas nessa matéria, a via de mão dupla melhorou seu convívio em classe. "Como tutor e tutorado, fiz amizade com pessoas que não tinha relacionamento antes."
Orientadora educacional do colégio, Rosângela Guedes diz acreditar que a melhora de autoestima e a aproximação entre os estudantes são dois méritos do projeto. "Há momentos em que os próprios alunos agendam suas aulas e trocam informações pelo WhatsApp", conta. Segundo ela, as aulas também servem para troca de dicas.
No Colégio Pentágono, no Morumbi, zona sul da capital, também existe a experiência dos minitutores. Para Américo dos Santos, coordenador do ensino fundamental 2, a proposta vai além do reforço no conteúdo. "Ajuda a criar competências socioemocionais, como respeito e cooperação mútua, entre os alunos e com o professor."
Personalizado
De acordo com especialistas, transformar o aluno em tutor é produtivo porque cria novas situações de aprendizagem.
"No entanto, é importante alternar papéis: ora está aprendendo, ora está ensinando. Não pode ficar cristalizado", alerta Cristina Barelli, do Instituto Singularidades, voltado para a formação de docentes.
Ela também afirma que a tutoria deve funcionar como uma estratégia de ensino personalizado, sem receita única de estudos. "Não pode ser um modismo. É preciso trabalhar a forma como cada criança aprende melhor", aponta. Outro risco, segundo ela, é criar uma situação de dependência. "Deve-se sempre incentivar a autonomia do aluno."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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