William Maia
Do UOL, em São Paulo
A cada dez alunos, apenas um concluiu o terceiro
ano do ensino médio com conhecimento considerado adequado em matemática em
2011. Os dados são parte do relatório anual "De Olho nas Metas" feito
pelo movimento Todos Pela Educação e divulgado nesta quarta-feira (6). A
análise de dados oficiais mostra que o ensino médio continua sendo o
grande gargalo da educação brasileira.
O ensino médio foi a única etapa a regredir em
relação à prova anterior: o índice de alunos com desempenho satisfatório em
matemática era de 11% em 2009 e ficou em 10,3% em 2011. O relatório usou dados
da Prova Brasil e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
No aprendizado de português,
o indicador se manteve estável em 29% – ou seja, sete de cada dez alunos
tiveram desempenho insuficiente.
Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos
Pela Educação, o fracasso do ensino médio é fruto da baixa qualidade do
aprendizado acumulado no ensino fundamental e de problemas na estruturação do
currículo de aulas.
“No ensino médio, o aluno já
chega com uma defasagem muito grande, por tudo que ele não aprendeu nos anos
anteriores”, afirma.
Problema estrutural
Em sua opinião, a
recuperação do estudante do antigo “colegial” depende de mudanças radicais no
programa de aulas. “A estrutura curricular do ensino médio é muito inchada e
fragmentada e o que tem sido feito é só incluir mais disciplinas”, acrescenta.
Segundo a especialista, essa
mudança estrutural depende de investimento na formação docente. “Os professores
não estão preparados para lidar com o estudante real do ensino médio, que vem
das mais distintas classes sociais, com toda essa defasagem e desestímulo em
relação à escola. Os cursos de pedagogia são muito genéricos e teóricos, muito
distantes dessa realidade”.
Enem ainda não teve
impacto
A reformulação do Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio), que desde 2009 passou a selecionar estudantes
para vagas em universidades públicas por meio do Sisu (Sistema de Seleção
Unificada) e já servia como critério de seleção para bolsas do Prouni (Programa
Universidade Para Todos), ainda não promoveu uma mudança no ensino médio, como
previu o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.
“O novo Enem se tornou um
estímulo para o aluno concluir no ensino médio porque abriu perspectivas de
entrada na faculdade, mas ainda não induziu nenhuma transformação estrutural”,
afirma Priscila Cruz.
Fundamental
Os números recentes apontam
que, nos últimos anos, houve avanços na qualidade da educação nos primeiros
anos do ensino fundamental. No entanto, o desempenho dos alunos nas séries
seguintes da educação básica não está acompanhando essa melhora.
Enquanto no fim do 5° ano do
ensino fundamental a taxa de alunos com aprendizado considerado suficiente em
português é de 40% e em matemática de 36,3%, no fim do fundamental 2, o
percentual cai para 27% em português e 16,9% em matemática.
A razão para bom aluno na 5ª
série se “perder” até o 9º ano pode estar na estrutura curricular. “Os bons
resultados alcançados no fundamental 1 não encontram um ambiente adequado para
prosperar”, diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação. Para
ela, o currículo com muitas matérias pode fazer com que o desempenho do aluno
se dilua ao longo dos anos letivos.
Fonte: noticias.bol.uol.com.br
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