Cláudia Emi Izumi
Do UOL, em São Paulo
Pouca gente sabe, mas o EAD
(ensino a distância) existe há mais de um século no Brasil. Aqui e no exterior,
o método de aprendizado remoto ganhou fôlego a partir da propagação em massa da
internet.
Um dos resultados desse
movimento foram os cursos de graduação, que hoje podem ser feitos de forma
semipresencial. O método, porém, ainda gera dúvidas.
O UOL ouviu três
especialistas, que comentam as dúvidas mais comuns que ainda rondam o ensino a
distância superior.
Além da consultora da Abed
(Associação Brasileira de Educação a Distância) Arlete Guibert, três
especialistas em graduação a distância foram entrevistados. O coordenador de
EAD da UnB (Universidade de Brasilia), Athail Pulino, a coordenadora adjunta da
Universidade Aberta do Brasil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina),
Rosely Zen Cerny, e o diretor executivo da FGV Online (Fundação Getúlio
Vargas), Stavros Panagiotis Xanthopoylos.
1. O ensino a
distância ameaça o emprego do professor
MITO:
Este profissional é essencial para verificar o aprendizado a distância do
aluno. O computador não vai substituí-lo. Na opinião de Pulino, o professor de
EAD consegue até acompanhar melhor o desempenho dos alunos. Isso é feito por
meio de atividades próprias dos cursos a distância, como fóruns de discussão,
testes online e atividades extras, que são em quantidade maior que nos cursos
presenciais.
MITO:
O EAD permite uma maior personalização no ensino que a educação presencial
porque o aluno recebe orientação individualizada, diz Pulino. Ele acredita que
o professor tradicional não tem condições para comentar uma prova e dar retorno
de rendimento para cada um de seus alunos em apenas 50 minutos de aula. “Já no
EAD, o aluno tem a supervisão do professor e de tutores. Além disso, os testes
de múltipla escolha não são o único meio de avaliação. O tutor de EAD acompanha
regularmente os avanços do aluno no curso, e interfere quando ele não faz
exercícios, não participa de fóruns ou não dá retorno”, comenta Pulino.
3. Cursos idealizados e formatados somente com
videoaulas são ruins
VERDADE:
Apesar de exemplos bem-sucedidos de tutoriais e aulas em vídeos, como a Khan
Academy para os alunos da educação básica, cursos mais complexos perdem
qualidade se forem dados apenas com a exposição de vídeos e animações que
explicam o conteúdo escolar. “O melhor formato é aquele baseado em ‘comunidades
de aprendizagem’, com interação entre alunos e com professores”, diz Pulino.
4. Não dá para comparar curso a distância com
curso presencial porque são duas metodologias de ensino completamente
diferentes
VERDADE:
“Podemos comparar a aprendizagem (domínio de uma competência, uma habilidade ou
um conhecimento), mas não a forma pela qual ela foi adquirida, que pode ser
presencial, a distância ou mista”, diz Xanthopoylos. “O que podemos afirmar é que
a internet, e principalmente a chegada da Web 2.0 com as redes sociais, trouxe
uma nova dimensão de comunicação que permitiu alavancar nossa vida pessoal e
profissional e a formação escolar. Esse fenômeno é irreversível e tem
revolucionado os processos pedagógicos, sem prejuízo nos resultados da
aprendizagem quando comparados com os métodos tradicionais.”
5. O desempenho de um estudante de EAD pode ser falsificado porque
existe a possibilidade dele colar nas provas ou colocar outra pessoa para fazer
o seu trabalho
VERDADE EM PARTE: “Se o aluno fizer a avaliação pelo computador,
sem controle ou acompanhamento, é óbvio que poderá falsificar um exame. Por
isso que, em cursos certificados ou diplomados no EAD, as provas são realizadas
em polos de forma presencial e com monitoramento e controle, como exige o MEC
(Ministério da Educação)”, lembra Xanthopoylos. De acordo com ele, a cola só
ocorrerá se o sistema de controle for falho, o que vale tanto para os cursos
EAD quanto para os presenciais.
6. Alguns professores de cursos presenciais e o
mercado de trabalho têm preconceito contra o EAD
VERDADE:
“Hoje vale essa máxima. O preconceito parte da ignorância, da falta de
conhecimento de como funciona o EAD. Não há outra explicação”, comenta Pulino.
“Por sorte, há professores do método presencial que procuram ferramentas online
para melhorar o ensino”, diz. A coordenadora adjunta da Universidade Aberta do
Brasil da UFSC acrescenta: “Os professores que vêm trabalhar com ensino a
distância acabam mudando a tática pedagógica que era adotada em sala de aula
porque percebem que o mesmo material não funciona no EAD. O ensino a distância
não tem lugar para improvisação, as atividades são pontuais.”
7. O ensino a distância é para quem
interrompeu os estudos e não concluiu um curso superior
EM PARTE:
“Hoje o grande lance do ensino a distância é a possibilidade dada à
universidade pública e à privada de sair de sua esfera e atingir municípios
distantes e menores que jamais terão uma instituição de ensino superior de
qualidade. Ainda existe o preconceito contra a aprendizagem remota, mas isso
está cedendo e a média de idade dos alunos, entre 30 e 40 anos, tende a baixar
no futuro”, opina Cerny.
8. O aluno de EAD pode ficar desmotivado a
estudar por não ter professores em cima dele
MITO:
“Em muitos casos, ter um professor em cima da gente é pior. A motivação do
aluno vem da integração com outros alunos. Eles podem estudar e tirar dúvidas
sozinho ou em grupo. Além disso, há os polos presenciais da graduação a
distância. É lá que o aluno presta contas se estudou ou não aos tutores, que
são formados na área de conhecimento do curso e que esclarecem e checam os
pontos da matéria que os alunos não assimilaram”, explica Cerny.
9. Há muita distração para quem estuda em um
computador
MITO:
Um bom curso de EAD é estruturado com estratégias e atividades que prendem a
atenção do estudante, e não o contrário, comenta Cerny. “É claro que um desvio,
como para as redes sociais, pode ocorrer com muita facilidade. Mas se o aluno
não cumprir o que é exigido, o tutor intervém. Se o aluno não faz uma
atividade, o tutor entra em contato. Há muitas técnicas de ensino para manter a
atenção dos alunos nos estudos”, diz Cerny.
10. O ensino a distância é para alunos que
não têm tempo e querem tirar um diploma sem muito trabalho
MITO:
“O ensino a distância proposto por instituições de ensino competentes pode
requerer muito mais trabalho do que em uma sala de aula presencial. Para que
você assimile o conhecimento, tem de se programar, ter disciplina, assumir o compromisso
de estudar com autonomia, gerenciando seus horários. Para aqueles que entram em
um curso qualificado, saibam que terão de trabalhar bastante para obter o
diploma”, fala Guibert.
11. Preciso de um computador muito bom para
acompanhar um curso de EAD
MITO:
O nível de conhecimento em informática é básico, e o computador precisa ter
configurações mínimas com um navegador de internet, pacote Office ou similar
(BrOffice), programas para abrir arquivos em PDF e rodar vídeos, além de uma
conexão de internet a partir de 500kbps para assistir a videoaulas sem pausas e
interrupções. Todos os computadores mais recentes vêm com essas funções, mas,
caso haja dúvidas, a instituição de ensino dá orientações ao aluno.
Fonte: noticias.bol.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário