Cristiane Capuchinho
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Incluir exercícios com letras e números na educação de crianças
a partir dos três anos melhora o desenvolvimento na alfabetização, afirmam
especialistas. A prática, conhecida como letramento, não é novidade em escolas
particulares. No entanto, na rede pública, a educação infantil ainda se resume
ao cuidado e a brincadeiras sem intenção didática.
A proposta não é a de transformar creches em escolas, mas a de
colocar as crianças em contato com textos, letras e conceitos como preparação
para a alfabetização, explica a psicóloga Tarciana de Almeida, especialista em
psicologia cognitiva.
"Assim as crianças podem chegar ao final do 3º ano [do
ensino fundamental] como leitoras, escritoras e falantes de sua língua cada vez
mais competentes", afirma a pedagoga Patrícia Moura Pinho, professora da
Universidade Federal do Pampa.
"É a escola pública que não faz isso com a alegação de que
se está 'escolarizando' a educação infantil. Isso só aumenta a desigualdade,
estamos reduzindo as chances dos alunos de escola pública", pontua Angela
Dannemann, diretora executiva da Fundação Victor Civita.
Para as especialistas, as críticas ao letramento infantil não
são pertinentes. "Desde sempre a criança está inserida no mundo da
escrita. Tudo depende de como a questão for trabalhada, podemos, por exemplo,
trabalhar textos de forma muito rica, sem que a criança seja necessariamente
alfabetizada", considera Tarciana.
Ampliando horizontes
De maneira lúdica, os professores
podem tornar familiar as letras, diferentes formas de apresentação de texto ou
conceitos. "A comparação entre tamanhos de sapatos ou alturas pode
ajudá-las a entender o sistema métrico e até mesmo a compreender dezenas e
centenas", exemplifica Angela.
A leitura de diferentes tipos de
textos, como livros, cartas e jornais, apresenta a diversidade de registros
possíveis para a escrita. "Esta é uma forma de trabalhar linguagem em uso
real e não descontextualizada e sem sentido, como a escola costuma fazer"
acrescenta Tarciana.
Os pais têm importante papel na
introdução das crianças ao mundo das letras, lendo histórias e apresentando os
diferentes mundos da escrita. No entanto, é também aí que mora o
problema. "As crianças que moram em casas em que os pais têm o hábito
de leitura já saem na vantagem e a escola pública não ajuda a mudar esse
quadro", critica Angela.
Educação infantil
no país
Em 2012, a educação infantil reunia
7,3 milhões de crianças matriculadas no Brasil, segundo o Censo da Educação
Básica. Dessas, 4,7 milhões estavam na pré-escola e os outros 2,5 milhões em
creches.
Para inserir o letramento nesse
período escolar, no entanto, é necessária a capacitação dos professores, que
"não têm conhecimento didático", afirma Angela. Segundo o Censo
Escolar de 2012, 35% dos professores da educação infantil têm apenas o ensino
médio.
Idade certa
O Senado aprovou o Pnaic (Pacto Nacional para a
Alfabetização na Idade Certa), que prevê uma série de ações
envolvendo União, Estados e municípios para garantir a alfabetização dos alunos
da rede pública de ensino até os 8 anos de idade até 2022.
O Pnaic prevê o apoio do governo federal para financiar a
formação continuada dos professores; as bolsas oferecidas aos profissionais e
outras atividades voltadas ao cumprimento dos objetivos do pacto. A estimativa
é que sejam investidos cerca de R$ 3 bilhões até 2014.
Fonte: noticias.bol.uol.com.br
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