Do UOL, em São Paulo
O cantor Jair Rodrigues morreu nesta quinta-feira (8), aos 75 anos, em sua casa em Cotia, na Grande São Paulo. Exame preliminar do IML (Instituto Médico Legal) apontou que a causa da morte foi um infarto do miocárdio. O assessor de imprensa do artista, Giuliano Spadari, afirmou ao UOL que Jair foi encontrado por funcionários da família, por volta das 10h, na sauna de sua casa.
O velório do corpo do cantor --conhecido por sucessos como "Deixa Isso Pra Lá" e por suas parcerias com Elis Regina-- será realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo, com início previsto para as 20h. O enterro está marcado para as 11h de sexta-feira no cemitério Gethsemani, no Morumbi.
De acordo com o produtor e cunhado do cantor, Pedro Melo, Jair Rodrigues fez um check up no hospital Oswaldo Cruz há três meses, e não apresentava problemas de saúde. Ele cumpria normalmente a agenda de shows e sua última apresentação foi na terça (6), em Minas Gerais. Indiretamente, o músico também estava "em cartaz" em São Paulo, interpretado pelo ator Ícaro Silva, em "Elis, A Musical". O elenco prepara uma homenagem a ele na apresentação desta noite.
Rodrigues deixa a mulher Clodine, dois filhos (os também cantores Luciana Mello e Jair Oliveira) e quatro netos. Parentes e amigos, entre eles o cantor Simoninha, filho de Wilson Simonal, foram à residência do cantor para confortar a família. Em mensagem em sua página no Facebook, Luciana Mello descreveu a morte como um "momento difícil e sofrido" e agradeceu o carinho recebido.
A notícia da morte do cantor repercutiu imediatamente nas redes sociais entre os colegas do samba, do rap e até da música sertaneja, à qual Rodrigues também se associou ao cantar "Disparada", na TV nos anos 60. "Foram muitos anos que a gente se relacionou em eventos. Ele irradiava alegria", comentou Chitãozinho à TV Globo nesta manhã.
Jair Rodrigues de Oliveira nasceu no dia 6 de fevereiro de 1939 em Igarapava, interior de São Paulo. Ele iniciou a carreira musical nos anos de 1950 e, na década seguinte, atingiu o sucesso em programas de calouros na televisão.
Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você, que já apresentava um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso Pra Lá", considerado como uma das músicas precursoras do rap, que só viria a nascer duas décadas depois. O álbum traz também "Brasil Sensacional" e "Marechal da Vitória", canções que embalaram a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Chile.
Ao lado de Elis Regina, Jair Rodrigues se tornou um dos grandes nomes do samba ao participar do notório "O Fino da Bossa", programa da TV Record que foi ao ar entre 1965 e 1967.
Com jeito brincalhão de malandro e voz potente, Jair ficou nacionalmente conhecido através dos duetos com a "Pimentinha". O trabalho rendeu três discos: "Dois na Bossa" nos volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. Na época, foi um dos primeiros registros a atingir mais de 1 milhão de cópias.
A interpretação de Jair ganhou dimensão que ressoa até hoje principalmente com a canção "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo de Barros. A canção sertaneja foi sensação no Festival da Música em 1966, principalmente pelo fato de Jair ter ficado conhecido como um artista do samba. "Disparada" acabou empatada com "A Banda", de Chico Buarque.
Jair realizou turnês pela Europa, Estados Unidos e Japão. Em 1971, gravou o samba-enredo "Festa para um Rei Negro", da Acadêmicos do Salgueiro.
Carismático, Jair Rodrigues revisitou o disco "Dois na Bossa" no palco dedicado a Elis Regina na Virada Cultural de 2012, em São Paulo. Na ocasião, ele afirmou que Elis havia sido um "grande amor". Ele voltaria a relembrar da época ao assistir o espetáculo "Elis, a Musical", quando aplaudiu de pé e foi homenageado pelo público.
Em julho do ano passado, Rodrigues se viu envolvido em uma polêmica após aparecer em Brasília ao lado de artistas que se declaravam contrários à aprovação de um projeto de lei que criou regras mais rígidas para o funcionamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Posteriormente, o cantor negou ao UOL que estivesse do lado do Ecad: "Eu não represento o Ecad e o Ecad não me representa", disse.
O último trabalho, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem do cantor ao samba e à seresta, e foi lançado em fevereiro.
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