quinta-feira, 15 de maio de 2014

Na PB, alunos abandonam escolas dominadas por facções criminosas

Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
Um levantamento realizado pela Promotoria de Justiça da Infância Infracional apontou que alunos de pelo menos seis escolas de João Pessoa estão deixando de ir às aulas por conta do medo causado por duas fações criminosas que dominam as unidades.

As duas facções são a "EUA" e "Okaida", que disputam o domínio do tráfico de drogas na capital paraibana. As duas são responsabilizadas pelas autoridades por muitos crimes em João Pessoa e impõem medo à população. Em vídeos na Internet, "EUA" e "Okaida" divulgam a violência como forma de atuação.

O levantamento foi feito pela promotora da Infância Infracional, Ivete Arruda, que explicou ao UOL que a informação foi descoberta após entrevistas com adolescentes infratores apreendidos.

"Percebi que o motivo de muitos adolescentes estarem fora da escola é o envolvimento das facções na periferia. É coisa do tipo: quem está em uma facção 'X' não pode ir porque quem comanda a escola é da 'Y' . Eles são ameaçados de morte, recebem bilhetes dentro das unidades. Isso faz com que eles deixem de ir ou nem se matriculem", contou.

Somente este ano, Arruda conta que pelo menos duas tentativas de assassinato foram registradas dentro de escolas. Hoje, não há controle de entrada de armas, o que põe em risco alunos e professores.

"A violência tem se agravado porque os alunos estão levando utensílios que colocam em risco a vida das pessoas, como estiletes e chave de fenda. Até arma de fogo já foi plantada dentro das unidades", disse.

A promotora explica que a evasão atinge não só os estudantes que são envolvidos nas facções, mas afasta também outros alunos, que têm medo de frequentar as aulas.

"Sexta-feira passada estava fazendo uma inspeção in loco a uma unidade da periferia. Quando eu estava conversando com cinco adolescentes soltaram uma bomba no banheiro. É assim que a coisa funciona. O caos está instalado", pontuou.

O medo atinge não só a comunidade escolar. Segundo a promotora, a maior dificuldade para chegar aos acusados de crimes é a lei do silêncio entre moradores do entorno da escola e dos pais. 

"Não tenho como dar proteção a elas, falta estrutura para tirar as pessoas em velocidade. Comuniquei o fato à secretaria [de Segurança e Defesa Social] para que aumentem o policiamento no entorno para minimizar a situação."

Entre as medidas que estão sendo estudadas pela promotora para reduzir a violência estão a proibição imediata da entrada de celular na escola e a instalação de detectores de metal. "Vou primeiro sentar e pedir ao Estado, para que não digam que foi imposição minha. Vou mostrar o que a gente tem de números", afirmou.


Resposta

A Secretaria da Segurança e da Defesa Social informou à reportagem que as polícias Civil e Militar desenvolvem ações de prevenção, ostensivas e de repressão qualificada. "Os policiais agem não só no ambiente escolar como também na área de convivência social das crianças e adolescentes."

A PM seria responsável por fazer segurança "por quadrante", na circunscrição onde a escola está inserida. "O patrulhamento escolar existe, com ações que incluem visitas às unidades escolares e outras atividades, como as desenvolvidas pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência [Proerd]", disse.

Já a Polícia Civil seria responsável pelas investigações e ações de inteligência para "identificar os fornecedores de entorpecentes."

O órgão também disse que é importante as denúncias sobre violência e tráfico nas escolas, que podem ser encaminhada para o Disque Denúncia – número 197. O sigilo é garantido, e a ligação é gratuita.

UOL enviou pedido de esclarecimentos à Secretaria de Educação, mas até a publicação da reportagem não recebeu resposta.


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