Cristiane Capuchinho e Suellen Smosinski
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
O Projeto de Lei sobre a destinação
dos royalties do petróleo para educação e saúde aprovado pelo Senado na noite
de terça-feira (2) diminuiu em R$ 170,9 bilhões a previsão de repasse para as
duas áreas nos próximos dez anos. O texto que havia passado pela Câmara dos
Deputados previa cerca de R$ 279,08 bilhões, o do Senado prevê um montante de
recursos de R$ 108,18 bilhões até 2022. As estimativas estão em nota técnica da
Câmara dos Deputados, atualizada na tarde desta quinta-feira.
O texto aprovado pelo Senado muda os
contratos sobre os quais incidem as novas regras e reduz a parte de
investimento feita por Estados e municípios e a divisão do Fundo Social do
Pré-Sal. Assim, a área de educação deverá receber R$ 97,48 bilhões nos próximos
dez anos --frente à previsão de R$ 209,31 bilhões para o texto da Câmara--, e
saúde ficará com R$ 10,7 bilhões --menos que um sexto do montante de R$ 69,77
previsto no texto aprovado pelos deputados.
As alterações, propostas pelo líder
do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), foram o resultado de um acordo
para manter parte do projeto da Câmara e atender a pedidos do governo federal.
Em nota, o gabinete da liderança do governo no Senado discorda das estimativas
da nota técnica.
VERBAS ADICIONAIS PARA EDUCAÇÃO E SAÚDE
Ano
|
Estimativa
de recursos*
|
2013
|
R$ 0,87
bi
|
2014
|
R$ 1,81
bi
|
2015
|
R$ 2,88
bi
|
2016
|
R$ 5,04
bi
|
2017
|
R$ 7,66
bi
|
2018
|
R$
10,69 bi
|
2019
|
R$
14,77 bi
|
2020
|
R$
19,26 bi
|
2021
|
R$
22,04 bi
|
2022
|
R$
23,16 bi
|
Total
|
R$
108,18 bi
|
·
Fonte: Nota técnica da Câmara dos Deputados
·
* Foi considerado o cenário em que não há queda na produção dos poços do
Pré-Sal
Até a terça-feira, o governo lutava
para que o Senado voltasse ao projeto de lei enviado pelo governo,
que destinava R$ 25,88 bilhões integralmente para educação. O ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, mostrava preocupação do governo sobre o uso de
recursos do Fundo Social do Pré-sal integralmente e sobre a mudança de
destinação de verbas de Estados e municípios de contratos antigos.
O resultado não agradou aos
defensores da educação, que reclamam da redução nos valores que serão
investidos na área e no longo prazo para que sejam destinados.
"O texto do Senado recua muito
em relação ao da Câmara. Os senadores decidiram não aumentar o aporte de
recursos de Estados e municípios para educação e saúde", criticou Daniel
Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Tempo de destinação
"A proposta original do governo
era destinar à educação 100% dos royalties do petróleo decorrentes dos novos
contratos de concessão, firmados a partir de 3 de dezembro de 2012. Como a
exploração de petróleo é feita por contratos de longo prazo, esses recursos
iriam demorar bastante tempo para chegar às escolas", avalia a economista
Maíra Penna Franca, que estuda o financiamento da educação básica na UFF
(Universidade Federal Fluminense).
O substitutivo definiu que serão
destinados para educação e saúde as receitas de royalties da União de poços
cuja declaração de comercialidade, marca de que a exploração começou, tenha
ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012.
No caso de Estados e municípios, o
texto inclui apenas contratos firmados a partir de 3 de dezembro do ano
passado. A decisão foi justificada pelo risco de que Estados e municípios
judicializassem a questão. Porém, isso significará, segundo a nota técnica da
Câmara dos Deputados, que os recursos dessa parcela só começarão a ser
destinados à educação e saúde em 2022.
O texto estabelece ainda que 50% dos
royalties do pré-sal que a União enviaria para o Fundo Social seja investido em
educação e saúde, na proporção de 75% e 25%, o que garante verba imediata para
os setores. O valor estimado é de que em 2014, as duas áreas recebam juntas R$
870 milhões adicionais. A proposta da Câmara previa cerca de R$ 6,15 bilhões já
no próximo ano.
Recursos ou
rendimentos
O projeto da Câmara previa que 50%
dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal, uma espécie de poupança do governo,
fossem destinados exclusivamente à educação. O Planalto queria que 50% dos
rendimentos do montante fossem passados para o setor. O temor do governo era o
de acabar com essa reserva de dinheiro nos próximos anos.
Para a economista Maíra Franca a
injeção de dinheiro na educação por tempo determinado faz sentido pela
necessidade de investimento em infraestrutura.
"É preciso investir em
infraestrutura pois o sistema escolar ainda encontra-se em expansão. A taxa de
cobertura não é completa, muitas crianças e jovens em idade escolar ainda
encontram-se fora da escola. A jornada escolar mínima no Brasil é de apenas
quatro horas diárias, enquanto nos países mais desenvolvidos é, em média, de
seis horas diárias. Um percentual elevado de professores não possui formação
adequada, e por isso é preciso oferecer cursos de licenciatura e de
qualificação", afirma.
Outro lado
Em nota, o gabinete da liderança do
governo no Senado questionou algumas das premissas das estimativas feitas na
Nota Técnica da Câmara dos Deputados.
"R$ 82 bilhões de oriundos de
bônus de assinatura sob o regime de partilha é uma projeção sem qualquer
respaldo técnico. Esses supostos recursos iriam para o Fundo Social, com 50%
dessa receita (R$ 41 bilhões) indo para a educação – convém esclarecer que a
destinação de parte do bônus de assinatura para o Fundo Social teve por
objetivo capitalizar o Fundo nos primeiros anos de sua existência e não ser uma
fonte permanente de recursos para o Fundo".
"Nessa estimativa constavam
também supostos recursos oriundos do pagamento, à União, por conta da
individualização da produção de Campos concedidos e cuja área se estende para
fora do bloco concedido, ou seja, em área da União – convém esclarecer que a
premissa baseou-se em interpretação equivocada de que a União poderia explorar
essa área diretamente, recebendo o petróleo ali produzido", continua a
nota.
A nota afirma ainda que "as
alterações introduzidas no Senado buscaram aprimorar o texto aprovado na
Câmara, minimizando o risco de judicialização e evitando o uso indevido do
Fundo Social".
O texto destaca também que "a
iniciativa de vincular 100% dos royalties do petróleo para a educação foi uma
iniciativa do Governo da Presidenta Dilma. Portanto o Governo e o Parlamento
brasileiro tem o maior interesse em aumentar as verbas para saúde e educação,
mas de maneira responsável e segura juridicamente, para que tais verbas
efetivamente cheguem ao destino sem comprometer toda a economia. Vender ilusões
e atuar de maneira juridicamente imprudente quando o Supremo Tribunal Federal já
decidiu liminarmente a respeito da matéria pode mais uma vez comprometer a
destinação dos royalties para essas áreas, tão importantes para nosso
país".
De volta à Câmara
O texto substitutivo do Senado terá
de ser apreciado novamente na Câmara dos Deputados e pode ser aprovado como
está ou voltar à proposta inicial da Câmara.
"Em relação ao projeto da Dilma,
que era medíocre, a gente avançou muito, mas perto de R$ 260 bilhões que
poderíamos ter, a gente teve um alto recuo. Precisamos garantir uma taxa de recurso
cabível para as necessidades de educação no Brasil, que são enormes. Esperamos
que a Câmara tenha grandeza histórica e atenda às reivindicações das
ruas", afirma Cara.
Mercadante confirmou que o montante
dos royalties não será suficiente para garantir o investimento de 10% do PIB
(Produto Interno Bruto) na educação, previstos no PNE 2011-2020 (Plano Nacional
da Educação).
No entanto, o governo deve lutar na
Câmara pela aprovação do projeto, segundo nota do MEC (Ministério da
Educação).
Fonte: BOL Notícias
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