Professor do MIT que virá ao Brasil fala sobre a onda dos cursos
digitais de acesso gratuito
SÃO PAULO - As principais
universidades norte-americanas se lançaram de cabeça no ensino online gratuito.
Ano passado, Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) criaram
o edX, uma plataforma de cursos abertos para massas (MOOCs, na sigla em
inglês). Cada instituição se comprometeu a investir US$ 30 milhões. Meses antes
nascia o Coursera, que hoje reúne cursos de 62 universidades, como Stanford e
Columbia. Não à toa, 2012 foi eleito o ano dos MOOCs pelo jornal The New York
Times.
Só o edX já tem 800 mil alunos
inscritos - incluindo 23 mil brasileiros - em 23 cursos: sete do MIT, seis de
Harvard, seis da Universidade da Califórnia e quatro da Universidade do Texas.
O mais popular é o de Circuitos
e Eletrônica, ministrado por Anant Agarwal, com cerca de 150 mil alunos.
Professor do MIT, o indiano foi convidado para ser o primeiro presidente do
edX. "Tudo que o aluno precisa é ter vontade de aprender e conexão à
internet", disse ele ao Estado, em sua primeira entrevista à imprensa brasileira.
"Num futuro não tão
distante será comum para as universidades reconhecerem créditos dos
MOOCs", diz Agarwal, que fará na quinta-feira a conferência de
encerramento do Transformar, um evento em São Paulo sobre inovação e tecnologia
na educação.
Para que servem os MOOCs e
quais as vantagens deles?
Promover o acesso de alunos de
qualquer lugar do mundo à educação é um grande benefício. Outro, para a
universidade, é que ela não precisa sair do câmpus para oferecer cursos. E
quando você tem um curso online combinado com ajuda pessoal de um professor, no
formato híbrido (blended), descobrimos que a qualidade supera de longe a dos
cursos tradicionais presenciais. Assim, um dos grandes benefícios para as
universidades também é poder aumentar muito a qualidade da educação no câmpus.
Há quem critique a falta de
contato entre aluno e professor.
Mais de uma geração de alunos
cresceu com as redes sociais, enviando mensagens de texto e batendo papo
virtualmente. São pessoas que se sentem confortáveis em aprender online.
Fizemos uma pesquisa com alunos que completaram o curso de Circuitos e
Eletrônica. Pedimos para eles compararem o curso online com o tradicional. Os
resultados foram surpreendentes: 36% dos alunos disseram que a experiência
online foi melhor que a presencial e 63% acharam tão bom quanto. O curso online
é muito bom, mas ter contato com um instrutor só melhora o aprendizado.
Como motivar os alunos?
Os cursos do edX são rigorosos.
São os mesmos ensinados nos câmpus e a taxa de aprovação varia de 5% a 20%.
Isso significa que até 95% dos alunos podem não ser aprovados porque abandonam
ou não têm desempenho suficiente. Fora isso, muitos terminam os cursos e não
pedem o certificado. Não sabemos quantos podem estar fazendo isso. Então,
precisamos ter cuidado com estatísticas. Além disso, os alunos têm de levar o
curso a sério e ser ativos, clicar em pelo menos um exercício ou dever de casa.
Para os alunos com postura ativa, mas que não conseguem passar, temos várias
ideias para engajá-los. Um professor, por exemplo, acessa os fóruns dos alunos,
identifica as dificuldades e toda semana produz um vídeo com os pontos fracos.
Outra maneira é oferecer material que ajude o aluno, porque às vezes ele não
tem o background para acompanhar o curso. Para fazer meu curso de Circuitos é
necessário saber equações diferenciais. Mas não ensinamos isso no edX. Então eu
sugiro que o aluno assista às videoaulas de Salman Khan (que, aliás, foi meu
aluno no MIT). Podemos ainda oferecer cursos híbridos, com apoio de um
professor local, o que aumenta a taxa de sucesso. Fizemos isso com a
Universidade Estadual de San Jose, da Califórnia. Os alunos assistiram aos
vídeos, fizeram exercícios e depois seguiram para aula discutir com o
professor. Os resultados foram incríveis. Tradicionalmente este curso tinha uma
taxa de reprovação de 21%, mas com o edX caiu para 9%.
Como construir uma relação mais
íntima com os alunos?
Acho que a intimidade já
existe. Eu, por exemplo, gravo as aulas no mesmo estilo de Salman Khan,
escrevendo em um tablet. Recebo e-mails de alunos dizendo que sentem como se
estivessem ao meu lado me vendo explicar os conceitos. Eles acham essa relação
muito pessoal. É melhor do que ficar na última fileira de um auditório para 500
pessoas vendo uma aula.
Vocês pesquisam o impacto dos
MOOCs na educação superior. O que descobriram?
Estamos capturando dados dos
alunos no edX: como eles aprendem, de onde vêm, quais exercícios acertam e
quais erram, que tipo de material usam. Com isso podemos melhorar o modo pelo
qual eles aprendem. Em um curso, separamos os alunos em dois grupos para
verificar quem se sairia melhor de acordo com as ferramentas que utilizavam. Em
outro caso, um professor de Harvard quis saber, com base nos dados gerados pela
plataforma, quais recursos os alunos utilizavam em diferentes momentos. Ele
descobriu que, quando os alunos resolvem o dever de casa, acessam bastante os
vídeos. Mas quando fazem o exame final, olham muito o livro-texto.
O governo de São Paulo lançou
um programa de inclusão de alunos de escolas públicas nas universidades
estaduais que prevê, para parte dos cotistas, um curso semipresencial de dois
anos, com certificação. Se aprovado, haverá uma formação generalista com o objetivo
de chegarem mais preparados à universidade. O projeto recebeu críticas porque,
entre outros motivos, os alunos de escolas públicas teriam menos atenção nesse
modelo. Qual sua opinião?
Acho que uma maneira de o
ensino superior se desenvolver é, em vez de trazer os alunos para os câmpus por
quatro anos, deixá-los fazer disciplinas online por um ano, depois passar dois
anos na universidade e, no último ano, fazer um estágio e mais atividades
online. Esse projeto parece uma boa ideia, mas eu teria de olhar mais a fundo a
plataforma, para saber como ela é. Muitas ainda estão em desenvolvimento. Ela
terá um componente social forte? Haverá fóruns de discussão? Como será a
interface do usuário? Tudo isso é importante para manter o aluno motivado. Eu
teria de conhecer esses aspectos, mas pode ser uma boa ideia se a plataforma
for muito boa.
Fonte: estadao.br.msn.com
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